Do meu charco vejo o céu
em total desacordo ortográfico
sexta-feira, 13 de outubro de 2023
Do fim de semana passado...
...trouxe umas quantas coisas.
Abraços, mimos, o teu respirar tranquilo enquanto adormeces ao meu lado, um desenho que me fizeste. Livros que ainda não li.
Saudades.
O desenho que me fizeste, com o coração multicolor feito com os carimbos coloridos trazia uma mensagem.
Quando, ainda aí, a li deu-me um aperto no coração.
"Tu não fazes ideia o quanto gosto de ti!!"
Tu não fazes ideia do quanto gosto de ti. Tu não fazes ideia o quanto te sinto a falta. Tu não fazes ideia o quaão é difícil estar longe e não te poder dar colo ou abraçar, dar beijinhos de boa noite, não através do ecrã mas na tua bochecha fofa. Nem do quanto sinto saudades de te fazer cócegas quando estás a preparar-te para dormir, mesmo antes de apagar-te a luz.
Não fazes ideia do quanto te amo, filha.
Tanto que achei que estarias melhor sem mim. Sim. A sério. Disse várias vezes que estava a estragar-te com as minhas exigências, com as arrelias diárias, com o sentir que não estava a ser suficientemente bom pai para ti, por pensar que te poderia estar a exigir demasiado. E tanto senti (e ainda vou sentindo) que preferi afastar-me. Para não estragar mais. Para poderes ser uma criança como as outras.
Não sei se fiz a coisa certa.
Sei que não estou arrependido de ter vindo. Apesar dos apertos no coração e das saudades.
Sinto, como senti quando tomei a decisão, que precisava de vir.
Sinto, como senti quando estive aí no fim de semana, que o teu abraço e o sorriso são muito importantes para mim.
Tu, não fazes ideia do quanto gosto de ti. :')
domingo, 1 de outubro de 2023
passado
"Gosto do teu cheiro.
Gosto de sentir o contacto das tuas mãos na pele.
Gosto de sentir o peso do teu corpo sobre o meu.
Gosto dos teus dentes encavalitados.
Gosto do teu cabelo, da maneira como roça no meu peito quando me provocas.
Gosto do toque da tua língua quente.
Gosto dos teus olhos brilhantes e da maneira como sorriem.
Gosto das tuas mãos pequeninas e da forma das tuas unhas.
Gosto dos teus beijos.
Gosto da tua voz e da entoação que lhe dás quando me contas coisas tuas.
Gosto quando me "metralhas" quando vamos de viagem.
Gosto da tua companhia. Em todas as ocasiões.
Gosto da forma como me prendes, quando dormimos juntos.
Gosto quando te deixas "desmaiar" e esperas que te agarre, (o que é difícil porque nos estamos ambos a rir!)
Gosto dos planos que fazemos juntos.
Gosto das tolices que dizemos e fazemos e do quanto nos divertimos com elas!
Gosto de saber que encontrei em ti, a mulher com que sempre sonhei, sem nunca imaginar que existias.
Gosto de pensar que és tu.
Gosto de sentir, cá dentro, que me completas e que somos um para o outro o que o outro é para o um.
Gosto de imaginar viagens em família e enquanto fazemos tolices à frente, os miúdos atrás ralham connosco por sermos tão crianças.
Gosto de sentir que posso ser eu sem máscaras, sem cautelas, sem pezinhos de lã, porque me queres 100% ao natural.
Gosto dos teus silêncios e dos teus momentos de ruído.
Gosto como cantas no carro.
Gosto de saber que conseguimos falar sobre tudo.
Gosto dos momentos em que começamos a assobiar em simultâneo a mesma parte da música que passa na rádio.
Gosto de saber que posso contar contigo.
Gosto de sentir que te ajudo, nem que seja só por te ouvir.
Gosto de te cortar as unhas, para que não fiquem "bicos" que depois se prendem à roupa ou nos arranham.
Gosto
Gosto de ti!
Assim, simples!"
Que foi feito de ti?
Que foi feito de nós?
rascunho
eu
eu não
eu não sou
eu não quero ser
não tenho a pretensão
não tenho o desejo de ser,
de me tornar em alguém diferente
por causa dos outros e das suas opiniões
não quero ter nada, não posso ter ninguém porque
os outros não são nossos para possuir, mesmo quando se quer
e eu não quero.
a sério. Não!
não quero
ser
Pretendo
apenas despojar-me
de tudo o que me rodeia
e impede de ver, de sentir
de experimentar.
livrar-me de tudo
de todas as coisas
que me fazem ficar, preso, amarrado
tolhido, com medo de as perder.
sonho em ter nada, em nada ser e assim tudo ter sem nada ser meu
aceitando o que me oferecerem: o céu por tecto, as estrelas por guia, o sol por despertador
a terra por colchão, o marulhar das ondas e o vôo livre dos pássaros, as flores do campo e o ladrar dos cães
o vento na copa das árvores, o ondular das ervas, as gotas frias de chuva a escorrer pela cabeça e pescoço
o calor da fogueira e as luzes ondulantes do fogo
dia 33
Já era de esperar que assim fosse.
Foi hoje.
Desde que te voltei as costas no aeroporto para vir para aqui que tenho andado às voltas, na minha cabeça e no meu coração, com a questão.
A dúvida, nunca deixei de a ter. Desde o primeiro momento em que decidi vir.
Ver os teus olhos tristes, ainda que a boca sorria, custa muito.
E claro, não tens responsabilidade nenhuma nisto. És uma criança, vítima de uma decisão de um adulto, que é teu pai.
Não espero que entendas. Que compreendas ou sequer que respeites.
Saramago escreveu que "É preciso sair da ilha para ver a ilha. Não nos vemos senão saímos de nós."
Eu quis vir para a ilha, comigo.
Com o custo de te deixar aí, com o peso de não abraçar, tocar ou sentir as tuas mãos pequeninas nas minhas.
O teu olhar bonito e profundo. O cheiro de ti, quando me abraças tão forte. O riso. As gargalhadas das cócegas na hora de dormir.
O tempo dirá se o benefício será maior que o custo.
Hoje não foi.
Hoje não fui.
quarta-feira, 4 de novembro de 2020
quarta-feira, 14 de outubro de 2020
Obsoleto
obsoleto
obsoleto sou
obsoleto sou eu
obsoleto sou eu que
obsoleto sou eu que ainda
obsoleto sou eu que ainda respiro
sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018
Banalidades
Não cessa de me admirar a forma como, hoje em dia, tudo se está a banalizar. Não consigo deixar de ficar indiferente quando, para justificar um comportamento, que na minha maneira de ver (e por ser minha é necessariamente parcial, enviesada e desajustada à realidade do outro) não faz qualquer sentido, me dizer que "não tem mal", "é na brincadeira" ou "toda a gente faz".
Vem isto a propósito de uma situação que presencie hoje entre duas adolescentes que estavam a mostrar fotografias uma da outra em situações banais, como comer na cantina da escola ou dançar na rua, tudo situações comuns que, nada têm de mal ou reprovável. As adolescentes em causa, chamemos-lhes Maria e Rita iam mostrando aos colegas fotografias de uma e de outra em poses mais ou menos risíveis consoante a expressão facial do momento em que a foto tinha sido tirada. Maria mostrou várias fotos de Rita, e se esta, a início estava a alinhar na brincadeira e se ria com as fotos que Maria mostrava no seu smartphone, a coisa chegou a um ponto em Rita resolveu ripostar, exibindo aos colegas um video, em que Maria se acariciava no peito, tocando-se nas mamas de uma forma, mais ou menos explícita ou provocante ou outro adjectivo que queiram utilizar. Os colegas (rapazes adolescentes, que são) entre risos e alguns comentários mais ou menos grosseiros fizeram a festa ao ver o vídeo.
Quando me apercebi do barulho, perguntei o que se estava a passar para toda aquela animação e a Rita, fez o mesmo comigo, que tinha feito aos colegas, mostrando-me, trocista, o video que filmara de Maria tocando-se. Fiquei surpreendido. Por várias aspectos: em primeiro lugar pelo à-vontade com que Rita me mostrou o video, pela naturalidade (ainda que um pouco envergonhada) com que Maria assistia a isto, pela reacção dos rapazes, como se eu fosse um deles e estivessem à espera de uma qualquer expressão ou esgar de reforço dos comentários e expressões deles.
Desviei o telefone, e perguntei-lhes se achavam necessário que eu tivesse tido contacto com aquele video. Se seria relevante para mim, ter visto o que me mostraram. Ficaram surpreendidas pela questão. Rita afirmou que, como a colega tinha mostrado fotografias dela que ela considerava injustas e abusivas, resolvera ripostar mostrando o video. Maria justificando o injustificável, afirmou que aceitara tocar-se para a câmara porque Rita lhe pedira. Os rapazes, neste ponto estavam calados na expectativa do que aquilo ia dar. Comecei por perguntar se sabiam o que é bullying. Disseram quase todos que sim. Questionei-os em seguida se tinham consciência de que o que tinham acabado de presenciar se enquadraria numa situação que pudesse ser qualificada como bullying. Que não. Que é normal. Que foi na brincadeira. Que não tinha mal nenhum.
Fiquei deveras surpreendido! Juntei as duas garotas e perguntei-lhes o que pensariam os pais de ambas, se por um acaso, dessem com o video e assistissem ao seu conteúdo. Rita respondeu que a sua mãe não mexe no seu telemóvel e Maria afirmou que não tem esse video. Perguntei-lhes depois se gostariam de ver tornado público o conteúdo daquele ou de outros vídeos semelhantes. Disseram ambas que não. A minha questão seguinte foi "Então porque é que fazem vídeos com este tipo de conteúdos?" Que é uma brincadeira, sem mal nenhum, que é normal. Que este até é bastante soft. Esta última resposta deixou-me de queixo caído!
Sim, provavelmente estou a tornar-me num cota, bota-de-elástico, moralista ou coisa parecida mas tentei explicar-lhes que não faz sentido exporem-se daquela forma uma vez que a "segurança" que a rede nos oferece é muito pouca. Que os conteúdos digitais, mesmo não tendo sido colocados online, estando na memória de um qualquer equipamento electrónico com ligação wi-fi, bluetooth ou 4G pode ser facilmente acedido por (quase!) qualquer pessoa. Que essa pessoa não precisa de ser génio da informática, geek ou nerd. Que o simples desaparecimento, por perda, furto ou roubo do equipamento, permite que qualquer pessoa aceda aos conteúdos que estão contidos na(s) memória(s) e daí publicados, partilhados na web e que a partir desse momento se tornam públicos?
Desde quando passou a ser normal expor a intimidade? Estamos a falar de garotos de 13/14 anos de idade. Desde quando, por uma colega/amiga da escola pedir, se permite que alguém nos filme enquanto nos tocamos de forma, digamos, íntima? Desde quando é que os pais deixaram de lado a sua responsabilidade de monitorizar os equipamentos electrónicos e os conteúdos on-line acedidos pelos filhos/as? Desde quando é que tudo isto se tornou tolerado ao ponto de os garotos acharem banal, normal, comum e aceitarem, proporem e incentivarem comportamentos destes?
Os miúdos são miúdos. Precisam de acompanhamento, supervisão e de adultos responsáveis e conscientes das armadilhas que a tecnologia esconde, que os alertem para o perigo da exposição mediática, e que as práticas (que aparentemente são comuns) entre eles, podem vir a trazer-lhes dissabores e arrependimentos. E, ou me engano muito ou será só uma questão de tempo.
Vem isto a propósito de uma situação que presencie hoje entre duas adolescentes que estavam a mostrar fotografias uma da outra em situações banais, como comer na cantina da escola ou dançar na rua, tudo situações comuns que, nada têm de mal ou reprovável. As adolescentes em causa, chamemos-lhes Maria e Rita iam mostrando aos colegas fotografias de uma e de outra em poses mais ou menos risíveis consoante a expressão facial do momento em que a foto tinha sido tirada. Maria mostrou várias fotos de Rita, e se esta, a início estava a alinhar na brincadeira e se ria com as fotos que Maria mostrava no seu smartphone, a coisa chegou a um ponto em Rita resolveu ripostar, exibindo aos colegas um video, em que Maria se acariciava no peito, tocando-se nas mamas de uma forma, mais ou menos explícita ou provocante ou outro adjectivo que queiram utilizar. Os colegas (rapazes adolescentes, que são) entre risos e alguns comentários mais ou menos grosseiros fizeram a festa ao ver o vídeo.
Quando me apercebi do barulho, perguntei o que se estava a passar para toda aquela animação e a Rita, fez o mesmo comigo, que tinha feito aos colegas, mostrando-me, trocista, o video que filmara de Maria tocando-se. Fiquei surpreendido. Por várias aspectos: em primeiro lugar pelo à-vontade com que Rita me mostrou o video, pela naturalidade (ainda que um pouco envergonhada) com que Maria assistia a isto, pela reacção dos rapazes, como se eu fosse um deles e estivessem à espera de uma qualquer expressão ou esgar de reforço dos comentários e expressões deles.
Desviei o telefone, e perguntei-lhes se achavam necessário que eu tivesse tido contacto com aquele video. Se seria relevante para mim, ter visto o que me mostraram. Ficaram surpreendidas pela questão. Rita afirmou que, como a colega tinha mostrado fotografias dela que ela considerava injustas e abusivas, resolvera ripostar mostrando o video. Maria justificando o injustificável, afirmou que aceitara tocar-se para a câmara porque Rita lhe pedira. Os rapazes, neste ponto estavam calados na expectativa do que aquilo ia dar. Comecei por perguntar se sabiam o que é bullying. Disseram quase todos que sim. Questionei-os em seguida se tinham consciência de que o que tinham acabado de presenciar se enquadraria numa situação que pudesse ser qualificada como bullying. Que não. Que é normal. Que foi na brincadeira. Que não tinha mal nenhum.
Fiquei deveras surpreendido! Juntei as duas garotas e perguntei-lhes o que pensariam os pais de ambas, se por um acaso, dessem com o video e assistissem ao seu conteúdo. Rita respondeu que a sua mãe não mexe no seu telemóvel e Maria afirmou que não tem esse video. Perguntei-lhes depois se gostariam de ver tornado público o conteúdo daquele ou de outros vídeos semelhantes. Disseram ambas que não. A minha questão seguinte foi "Então porque é que fazem vídeos com este tipo de conteúdos?" Que é uma brincadeira, sem mal nenhum, que é normal. Que este até é bastante soft. Esta última resposta deixou-me de queixo caído!
Sim, provavelmente estou a tornar-me num cota, bota-de-elástico, moralista ou coisa parecida mas tentei explicar-lhes que não faz sentido exporem-se daquela forma uma vez que a "segurança" que a rede nos oferece é muito pouca. Que os conteúdos digitais, mesmo não tendo sido colocados online, estando na memória de um qualquer equipamento electrónico com ligação wi-fi, bluetooth ou 4G pode ser facilmente acedido por (quase!) qualquer pessoa. Que essa pessoa não precisa de ser génio da informática, geek ou nerd. Que o simples desaparecimento, por perda, furto ou roubo do equipamento, permite que qualquer pessoa aceda aos conteúdos que estão contidos na(s) memória(s) e daí publicados, partilhados na web e que a partir desse momento se tornam públicos?
Desde quando passou a ser normal expor a intimidade? Estamos a falar de garotos de 13/14 anos de idade. Desde quando, por uma colega/amiga da escola pedir, se permite que alguém nos filme enquanto nos tocamos de forma, digamos, íntima? Desde quando é que os pais deixaram de lado a sua responsabilidade de monitorizar os equipamentos electrónicos e os conteúdos on-line acedidos pelos filhos/as? Desde quando é que tudo isto se tornou tolerado ao ponto de os garotos acharem banal, normal, comum e aceitarem, proporem e incentivarem comportamentos destes?
Os miúdos são miúdos. Precisam de acompanhamento, supervisão e de adultos responsáveis e conscientes das armadilhas que a tecnologia esconde, que os alertem para o perigo da exposição mediática, e que as práticas (que aparentemente são comuns) entre eles, podem vir a trazer-lhes dissabores e arrependimentos. E, ou me engano muito ou será só uma questão de tempo.
domingo, 11 de fevereiro de 2018
Retro(Pro)spetiva
Há uma aventura a preparar-se, "a botar corpo" como se diz cá por cima, que me tem inquietado e obrigado a sacudir o pó acumulado sobre uma boa quantidade de certezas que eu tinha. Às vezes, é bom desafiarmo-nos, para estabelecermos novos limites à nossa própria existência, ao que somos e que pretendemos ser para nós e para os que connosco estão e partilham o dia-a-dia.
Essa aventura tem uma vertente pública que me causou algum desconforto pela exposição que implicou mas, como tudo na vida tem tido aspectos positivos. Um deles, foi receber, contactos de pessoas, com quem já não falava, há uns bons anos! E sentir o carinho de pessoas que foram ficando para trás, não por vontade das partes, mas porque a vida a isso levou. Sabe bem sentir, que por muito longe que se esteja, na verdade vamos vivendo nas memórias que ajudamos a criar nos outros.
É reconfortante pensar que fomos (e somos!) capazes de deixar marcas positivas nos outros que se cruzam connosco no caminho.
Ao mesmo tempo, faz-me ver que ultimamente não tenho sido capaz de deixar esse tipo de marcas aos que me são mais próximos. Estou em crer que a pretexto da tal aventura, se apresenta uma oportunidade de melhorar, de crescer, de fazer diferente, de fazer melhor!
Vou tentar!
Essa aventura tem uma vertente pública que me causou algum desconforto pela exposição que implicou mas, como tudo na vida tem tido aspectos positivos. Um deles, foi receber, contactos de pessoas, com quem já não falava, há uns bons anos! E sentir o carinho de pessoas que foram ficando para trás, não por vontade das partes, mas porque a vida a isso levou. Sabe bem sentir, que por muito longe que se esteja, na verdade vamos vivendo nas memórias que ajudamos a criar nos outros.
É reconfortante pensar que fomos (e somos!) capazes de deixar marcas positivas nos outros que se cruzam connosco no caminho.
Ao mesmo tempo, faz-me ver que ultimamente não tenho sido capaz de deixar esse tipo de marcas aos que me são mais próximos. Estou em crer que a pretexto da tal aventura, se apresenta uma oportunidade de melhorar, de crescer, de fazer diferente, de fazer melhor!
Vou tentar!
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