Não cessa de me admirar a forma como, hoje em dia, tudo se está a banalizar. Não consigo deixar de ficar indiferente quando, para justificar um comportamento, que na minha maneira de ver (e por ser minha é necessariamente parcial, enviesada e desajustada à realidade do outro) não faz qualquer sentido, me dizer que "não tem mal", "é na brincadeira" ou "toda a gente faz".
Vem isto a propósito de uma situação que presencie hoje entre duas adolescentes que estavam a mostrar fotografias uma da outra em situações banais, como comer na cantina da escola ou dançar na rua, tudo situações comuns que, nada têm de mal ou reprovável. As adolescentes em causa, chamemos-lhes Maria e Rita iam mostrando aos colegas fotografias de uma e de outra em poses mais ou menos risíveis consoante a expressão facial do momento em que a foto tinha sido tirada. Maria mostrou várias fotos de Rita, e se esta, a início estava a alinhar na brincadeira e se ria com as fotos que Maria mostrava no seu smartphone, a coisa chegou a um ponto em Rita resolveu ripostar, exibindo aos colegas um video, em que Maria se acariciava no peito, tocando-se nas mamas de uma forma, mais ou menos explícita ou provocante ou outro adjectivo que queiram utilizar. Os colegas (rapazes adolescentes, que são) entre risos e alguns comentários mais ou menos grosseiros fizeram a festa ao ver o vídeo.
Quando me apercebi do barulho, perguntei o que se estava a passar para toda aquela animação e a Rita, fez o mesmo comigo, que tinha feito aos colegas, mostrando-me, trocista, o video que filmara de Maria tocando-se. Fiquei surpreendido. Por várias aspectos: em primeiro lugar pelo à-vontade com que Rita me mostrou o video, pela naturalidade (ainda que um pouco envergonhada) com que Maria assistia a isto, pela reacção dos rapazes, como se eu fosse um deles e estivessem à espera de uma qualquer expressão ou esgar de reforço dos comentários e expressões deles.
Desviei o telefone, e perguntei-lhes se achavam necessário que eu tivesse tido contacto com aquele video. Se seria relevante para mim, ter visto o que me mostraram. Ficaram surpreendidas pela questão. Rita afirmou que, como a colega tinha mostrado fotografias dela que ela considerava injustas e abusivas, resolvera ripostar mostrando o video. Maria justificando o injustificável, afirmou que aceitara tocar-se para a câmara porque Rita lhe pedira. Os rapazes, neste ponto estavam calados na expectativa do que aquilo ia dar. Comecei por perguntar se sabiam o que é bullying. Disseram quase todos que sim. Questionei-os em seguida se tinham consciência de que o que tinham acabado de presenciar se enquadraria numa situação que pudesse ser qualificada como bullying. Que não. Que é normal. Que foi na brincadeira. Que não tinha mal nenhum.
Fiquei deveras surpreendido! Juntei as duas garotas e perguntei-lhes o que pensariam os pais de ambas, se por um acaso, dessem com o video e assistissem ao seu conteúdo. Rita respondeu que a sua mãe não mexe no seu telemóvel e Maria afirmou que não tem esse video. Perguntei-lhes depois se gostariam de ver tornado público o conteúdo daquele ou de outros vídeos semelhantes. Disseram ambas que não. A minha questão seguinte foi "Então porque é que fazem vídeos com este tipo de conteúdos?" Que é uma brincadeira, sem mal nenhum, que é normal. Que este até é bastante soft. Esta última resposta deixou-me de queixo caído!
Sim, provavelmente estou a tornar-me num cota, bota-de-elástico, moralista ou coisa parecida mas tentei explicar-lhes que não faz sentido exporem-se daquela forma uma vez que a "segurança" que a rede nos oferece é muito pouca. Que os conteúdos digitais, mesmo não tendo sido colocados online, estando na memória de um qualquer equipamento electrónico com ligação wi-fi, bluetooth ou 4G pode ser facilmente acedido por (quase!) qualquer pessoa. Que essa pessoa não precisa de ser génio da informática, geek ou nerd. Que o simples desaparecimento, por perda, furto ou roubo do equipamento, permite que qualquer pessoa aceda aos conteúdos que estão contidos na(s) memória(s) e daí publicados, partilhados na web e que a partir desse momento se tornam públicos?
Desde quando passou a ser normal expor a intimidade? Estamos a falar de garotos de 13/14 anos de idade. Desde quando, por uma colega/amiga da escola pedir, se permite que alguém nos filme enquanto nos tocamos de forma, digamos, íntima? Desde quando é que os pais deixaram de lado a sua responsabilidade de monitorizar os equipamentos electrónicos e os conteúdos on-line acedidos pelos filhos/as? Desde quando é que tudo isto se tornou tolerado ao ponto de os garotos acharem banal, normal, comum e aceitarem, proporem e incentivarem comportamentos destes?
Os miúdos são miúdos. Precisam de acompanhamento, supervisão e de adultos responsáveis e conscientes das armadilhas que a tecnologia esconde, que os alertem para o perigo da exposição mediática, e que as práticas (que aparentemente são comuns) entre eles, podem vir a trazer-lhes dissabores e arrependimentos. E, ou me engano muito ou será só uma questão de tempo.
sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018
domingo, 11 de fevereiro de 2018
Retro(Pro)spetiva
Há uma aventura a preparar-se, "a botar corpo" como se diz cá por cima, que me tem inquietado e obrigado a sacudir o pó acumulado sobre uma boa quantidade de certezas que eu tinha. Às vezes, é bom desafiarmo-nos, para estabelecermos novos limites à nossa própria existência, ao que somos e que pretendemos ser para nós e para os que connosco estão e partilham o dia-a-dia.
Essa aventura tem uma vertente pública que me causou algum desconforto pela exposição que implicou mas, como tudo na vida tem tido aspectos positivos. Um deles, foi receber, contactos de pessoas, com quem já não falava, há uns bons anos! E sentir o carinho de pessoas que foram ficando para trás, não por vontade das partes, mas porque a vida a isso levou. Sabe bem sentir, que por muito longe que se esteja, na verdade vamos vivendo nas memórias que ajudamos a criar nos outros.
É reconfortante pensar que fomos (e somos!) capazes de deixar marcas positivas nos outros que se cruzam connosco no caminho.
Ao mesmo tempo, faz-me ver que ultimamente não tenho sido capaz de deixar esse tipo de marcas aos que me são mais próximos. Estou em crer que a pretexto da tal aventura, se apresenta uma oportunidade de melhorar, de crescer, de fazer diferente, de fazer melhor!
Vou tentar!
Essa aventura tem uma vertente pública que me causou algum desconforto pela exposição que implicou mas, como tudo na vida tem tido aspectos positivos. Um deles, foi receber, contactos de pessoas, com quem já não falava, há uns bons anos! E sentir o carinho de pessoas que foram ficando para trás, não por vontade das partes, mas porque a vida a isso levou. Sabe bem sentir, que por muito longe que se esteja, na verdade vamos vivendo nas memórias que ajudamos a criar nos outros.
É reconfortante pensar que fomos (e somos!) capazes de deixar marcas positivas nos outros que se cruzam connosco no caminho.
Ao mesmo tempo, faz-me ver que ultimamente não tenho sido capaz de deixar esse tipo de marcas aos que me são mais próximos. Estou em crer que a pretexto da tal aventura, se apresenta uma oportunidade de melhorar, de crescer, de fazer diferente, de fazer melhor!
Vou tentar!
Balanço do Ano Novo
O ano novo começou frio. E chuvoso. E doente.
Se a chuva já era desejado por (quase!) todos e o frio que faz não é nada de anormal para a época do ano, as doenças que também são de época, são o que realmente tem deixado este sapo mais desconsolado.
É que, pelo menos cá em casa. correu-nos a todos, não houve quem se safasse. Principalmente a mais nova, que tem estado quase ininterruptamente doente desde que foi para o infantário, ou infectário como lhe chama o pediatra. A adaptação a esse sítio foi (ainda é) difícil para todos. Foi muito complicado para ela e para nós no início e para mim continua a ser. Parece-me (perdoem a força da expressão) contranatura, entregar crianças tão pequenas aos cuidados de outras pessoas que, sem dúvida, serão muito competentes e farão o seu melhor, mas que acabam por passar com elas mais tempo que os seus pais.
Esta coisa de infantários e creches e não tarda pré-primária dá-me urticária! Fico cheio de comichões, o que num sapo verde de pele húmida e escorregadia, é sempre uma urgência de difícil solução... escapam-se-me as patas ao tentar coçar...
Entre quinze a vinte crianças por sala, com uma educadora e uma auxiliar, a tentarem formatar crianças tão novas... Depois venham-me falar em condicionamento...
Este modelo industrial que tem o sistema educativo é completamente obtuso, para não dizer obsceno. A escola-fábrica (ou será fábrica-escola?) está a tornar-se um local tão deprimente, tão cinzento, que quem tiver um bocadinho de cor e luz própria tem tendência a ser confundido com um louco, com alguém desajustado, ou na melhor das hipóteses com um génio! Vejo crianças brilhantes referenciadas como alunos com Necessidades Educativas Especiais; o Ensino Especial de pouco lhes vale e muito pouco lhes faz, pelo menos de bom! E que contribua para o seu desenvolvimento. Miúdos brilhantes que são rotulados de mal comportados, porque as aulas são enfadonhas e portanto, fazem o que qualquer um de nós faz, quando na televisão passa um mau programa: mudamos de canal ou desligamos!
Começar a escolarizar as crianças tão cedo, na minha modesta opinião, é um erro. Obrigar as famílias a deixar crianças às sete da manhã no infantário, para as irem recolher depois das sete da noite é uma violência.
Sim, eu sei que estou a generalizar e que haverá, certamente, muitos pais que vão buscar as crianças mais cedo e muitos infantários em que as crianças estão a ser tão bem, ou melhor, tratadas que em suas casas.
Ainda assim, não podemos querer que a família seja o pilar da sociedade, e depois, a mesma sociedade, por via das leis laborais e das políticas de apoio à parentalidade não promova horários de trabalho flexíveis para que os pais possam acompanhar devidamente os seus filhos.
Se a chuva já era desejado por (quase!) todos e o frio que faz não é nada de anormal para a época do ano, as doenças que também são de época, são o que realmente tem deixado este sapo mais desconsolado.
É que, pelo menos cá em casa. correu-nos a todos, não houve quem se safasse. Principalmente a mais nova, que tem estado quase ininterruptamente doente desde que foi para o infantário, ou infectário como lhe chama o pediatra. A adaptação a esse sítio foi (ainda é) difícil para todos. Foi muito complicado para ela e para nós no início e para mim continua a ser. Parece-me (perdoem a força da expressão) contranatura, entregar crianças tão pequenas aos cuidados de outras pessoas que, sem dúvida, serão muito competentes e farão o seu melhor, mas que acabam por passar com elas mais tempo que os seus pais.
Esta coisa de infantários e creches e não tarda pré-primária dá-me urticária! Fico cheio de comichões, o que num sapo verde de pele húmida e escorregadia, é sempre uma urgência de difícil solução... escapam-se-me as patas ao tentar coçar...
Entre quinze a vinte crianças por sala, com uma educadora e uma auxiliar, a tentarem formatar crianças tão novas... Depois venham-me falar em condicionamento...
Este modelo industrial que tem o sistema educativo é completamente obtuso, para não dizer obsceno. A escola-fábrica (ou será fábrica-escola?) está a tornar-se um local tão deprimente, tão cinzento, que quem tiver um bocadinho de cor e luz própria tem tendência a ser confundido com um louco, com alguém desajustado, ou na melhor das hipóteses com um génio! Vejo crianças brilhantes referenciadas como alunos com Necessidades Educativas Especiais; o Ensino Especial de pouco lhes vale e muito pouco lhes faz, pelo menos de bom! E que contribua para o seu desenvolvimento. Miúdos brilhantes que são rotulados de mal comportados, porque as aulas são enfadonhas e portanto, fazem o que qualquer um de nós faz, quando na televisão passa um mau programa: mudamos de canal ou desligamos!
Começar a escolarizar as crianças tão cedo, na minha modesta opinião, é um erro. Obrigar as famílias a deixar crianças às sete da manhã no infantário, para as irem recolher depois das sete da noite é uma violência.
Sim, eu sei que estou a generalizar e que haverá, certamente, muitos pais que vão buscar as crianças mais cedo e muitos infantários em que as crianças estão a ser tão bem, ou melhor, tratadas que em suas casas.
Ainda assim, não podemos querer que a família seja o pilar da sociedade, e depois, a mesma sociedade, por via das leis laborais e das políticas de apoio à parentalidade não promova horários de trabalho flexíveis para que os pais possam acompanhar devidamente os seus filhos.
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