Há coisas que algumas pessoas dizem, escrevem e afirmam que mexem comigo... Não me incomodam, não me revoltam nem me fazem ter atitudes, pensamentos ou o que quer que seja contra essas pessoas. Como já disse sou muito adepto do vive e deixa viver.
Ainda assim, não consigo evitar um pensamento de tristeza e simultaneamente de inquietação quando leio ou ouço alguém dizer: "amo isto ou aquilo", sendo que o isto ou aquilo pode ser substituído por qualquer tipo de coisa, ou objecto que se adquire numa qualquer loja seja de roupa de sapatos, de jóias, telemóveis e/ou afins.
"Amar" uns sapatos, uma camisa, um casavco ou um par de calças revela tanto (ou tão pouco) de quem o declara... Não que acredite que alguém possa amar esse tipo de objectos, mas a frequência com que se ouve dizer ou com que se lê este tipo de declarações (de amor?) dá que pensar. Tenho objectos de que gosto particularmente. Mas por nenhum tenho amor. Se fosse privado de alguns deles, não iria morrer (muito menos de desgosto amoroso!). Banaliza-se o amor. Ama-se a posse e o conforto ilusório que a posse de determinados objectos confere. Ama-se possuir coisas. Ama-se o ter. Desvaloriza-se o ser. Por dentro. E o que os outros são. A bitola que usamos para avaliar os outros, começa muitas vezes pelo que os outros têm. Pela profissão e pelo ordenado que essa profissão lhe permite auferir. Pela casa ou apartamento que têm. Pelo quanto gastam nas férias. Pelas marcas das roupas que usam a tapar o corpo.
Hoje as pessoas que contam, na sociedade mediatizada em que vivemos, são as que têm. Muito de preferência. As que são muito, não passam de notícias de rodapé nos telejornais. Não contam. Estão ofuscadas pelas plumas e lantejoulas.
Estou a pensar no tipo de valores que se promovem na sociedade. Que atitudes estamos a incutir nas pessoas que convivem connosco. Nos valores que estamos a dar, através do nosso exemplo. Estou agora a pensar que no post anterior falei do concerto dos Coldplay e que posso ser julgado pelo que escrevi. Sim. Gostei do concerto. Sim, gastei dinheiro para ir ver um grupo de música de que gosto muito e há muito tempo. Mas não declaro amor pelo grupo ou pela sua música. Espero manter-me lúcido o suficiente para gostar de coisas, de objectos, de música, de concertos, de umas calças ou t-shirt e guardar o amor para a família, para os amigos, para a lobita, (a ordem é aleatória) para as pessoas, em vez de o canalizar para as coisas.
Não que acredite (recuso-me a acreditar!) que há pessoas que amam as coisas e que gostam de pessoas. Apenas porque as coisas não me devolvem o quanto eu possa gostar delas e as pessoas (sim, muio poucas, eu sei!) devolvem o quanto as amo. E são essas que se tornam verdadeiramente essenciais para me ajudar a crescer e atingir o objectivo de ser mais e melhor.
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