Projecto de muitos anos, finalmente com a companhia certa para o poder realizar. Propôr a empreitada a amigos, combinar a data, o percurso, a táctica e a logística e pôr os pés ao caminho. Que é mesmo assim: Só se faz camoinho andando.
No fim-de-semana passado lá fomos. Cansados de uma semana de muito trabalho, com uma noite mal dormida, de manhã as coisas atrasaram-se entre banhos, pequeno-almoço e preparar as sandochas para o primeiro dia de caminho. Chegamos já passava das 11h da manhã ao ponto de encontro. Eramos seis ao todo. Cumprimentos da praxe, foto do momento da saída, conversa animada, pés frescos, um à frente do outro. Risos, piadas, gargalhadas, mais risos. Primeiros quilómetros. Aumentava a distância e aumentava o calor. Começamos a andar à pior hora. Até à hora do almoço, fizemos 12 km. Estação de Abreiro. Com tanto calor, fomos à aldeia (1,5km sempre a subir) procurar um local onde pudéssemos comprar água e arranjar transporte para dois do grupo que não iam fazer todo o percurso. Só digo que quando cheguei ao café, estava literalmente a derreter. Arranjamos a boleia, a água e regressamos à estação com a nossa gentil boleia. Era hora de prosseguir. Até ao local da dormida (S- Lourenço ainda tinhamos quinze km pela frente. Sim. fizemos praticamente 26km no primeiro dia. Doidos! Para acrescentar ao calor que se fazia sentir, andar entre os carris da linha aumentava ainda mais a temperatura. Felizmente que à medida que nos aproximávamos do final da etapa, o sol se escondia para lá do vale e o vento começava a soprar e a refrescar-nos.Ao fim de quase quatro horas e três paragens para descansar chegamos a S. Lourenço local onde existem umas termas de águas sulforosas que têm um cheiro bastante forte. Nas traseiras das termas existe um espaço onde se pode acampar e foi o que fizemos. Já lá tínhamos deixado um carro de véspera com as tendas, sacos-cama e jantar. Aproveitando os últimos raios de sol, montamos as tendas e preparamos tudo para dormir. Ainda fomos procurar jantar na aldeia mais próxima (Pombal) mas não tivemos sorte. Uns refrigerantes e pouco mais.
A noite foi curta. De manhã as dores musculares eram menores. Mas estavam lá. Para aproveitarmos o fresco da manhã levantamo-nos, arrumas as tralhas das tendas e desmontamos campo. Depois de lavarmos a cara e tomarmos o pequeno-almoço, pusemos as mochilas às costas e os pés ao caminho. Faltavam 15 km para chegar ao fim da linha: a estação do Tua. E lá os fizemos, parando na sombra dos túneis, comendo cerejas, bebendo alguma água. É a parte mais bonita da linha. O rio corre encaixado num vale em garganta mais estreito quando as rochas dominantes são granitos e mais largo quando predominam os xistos. A linha acompanha o vale pelo lado esquerdo. Paisagens de cortar a respiração e a tristeza de constatar que estamos a deixar destruir um património natural e humano que devidamente aproveitado, traria muito mais desenvolvimento económico e emprego a uma região, do que a barragem alguma vez fará. Não sou um velho do Restelo, nem contra o progresso, mas entre uma barragem no mínimo questionável e a paisagem fantástica que a linha proporciona, não hesitaria em escolher a linha de comboio!
À medida que a manhã avançava, o cansaço da véspera e o aumento da temperatura iam começando a deixar marcas em todos nós. Entre assaduras nas virilhas, bolhas nos pés e outros achaques lá chegamos ao local onde a EDP fez questão de destruir a linha: o km 3. A partir daqui não se pode seguir o percurso da linha. Resta tomar a picada que se encontra à esquerda e que termina na aldeia de Fiolhal. O pior é a inclinação do caminho que parte a pouca força que se possa ainda ter. No cimo da aldeia, um casal de velhotes oferece-nos água, e que bem que soube! Feitas as despedidas e depois de dois dedos de conversa seguimos pelo caminho que nos indicam e poupamos cerca de 2km. Porém ainda faltam mais cinco por estrada até à estação. Passa das duas da tarde. O sol, impiedoso, deixa-nos de rastos. À medida que descemos a estrada vamos focando a atenção no bife com batatas fritas que vamos pedir para o almoço. Depois das 16h30 chegamos ao destino. O restaurante em frente à estação ainda serve refeições e por isso vamos receber o nosso merecido bife, ao fresco do ar condicionado.
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