Abre a porta das traseiras e senta-se na cadeira, sob o telheiro, bebericando uma caneca de chá enquanto folheia o jornal. Pára de ler por momentos para se dar conta que as ervas daninhas tomaram conta dos canteiros que bordejam o muro do quintal. Lê distraidamente as letras gordas sem se deter nos pormenores das notícias. A compra do jornal ao sábado tornou-se um hábito e a sua leitura é apenas uma extensão desse hábito. O sol bate no papel branco e obriga-o a semicerrar os olhos devido à claridade. Dá conta que fica contraído e de testa franzida devido à luminosidade criada pelo reflexo e desiste de ler. Pousa o jornal na mesa, estica as pernas sobre a outra cadeira que se encontra do lado oposto e encosta-se. Fecha os olhos e sente o vento a dar-lhe os bons dias. O sol bate-lhe nas pernas. Ainda não está refeito das emoções que a recordação de há pouco lhe trouxe. Sente os olhos encherem-se de água. Levanta-se de imediato, secando-os com a manga da camisola.
Decide arrumar a cozinha e o quarto. Começa pela cozinha, recolocando no lugar os objectos que utilizou para fazer o chá. Varre o chão, sacode o tapete no quintal, alinha a toalha na mesa, pendura os panos da louça para que sequem e segue para o quarto. Faz a cama, põe o pijama para lavar, sacode os tapetes, arruma o calçado que está espalhado pelo chão e a roupa que se acumula sobre a cadeira. Passa o aspirador para tirar o cotão debaixo da cama. Não é uma limpeza profunda, é uma limpeza de manutenção. Tem de sair de casa. Não quer ceder à tentação de ir procurar as fotos dos tempos de universidade. Não a quer rever. Por hoje já basta de memórias. Pega na mochila, coloca lá a carteira, as chaves de casa, os óculos de sol, um boné para o sol e uma muda de roupa. Fecha as janelas, tranca a porta da frente e precipita-se para o quintal, trancando a porta da cozinha que dá para as traseiras.
Dirige-se à garagem, abre o portão de madeira que roça pelo chão de terra. O carro está coberto de uma fina camada de pó. Gosta de conduzir, mas desde que conseguiu transferência para perto de casa, cada vez anda menos de carro. Entra, coloca a chave na ignição, carrega no acelerador e dá à chave. Nunca falha! O motor pega à primeira. Depois de engrenar a marcha-atrás recua para o exterior da garagem e com o carro a trabalhar, dá uma mangueirada para retirar o pó. Fecha o portão da garagem, recua até ao passeio e prepara-se para entrar na estrada. Aproveita uma aberta e faz-se à estrada.
Muito bom... como sempre <3
ResponderEliminarObrigado. :P
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