sexta-feira, 24 de maio de 2013

Olha para mim

Diz-me o que vês.

Descreve-me o que vês. Diz-me o que é visível aos teus olhos, com esta luz. Com a luz do sol. Com a luz da lua e das estrelas. Com a luz do teu coração. Olha para mim. Diz-me o que vês. Diz-me quanto, do que vês, é verdadeiro e quanto é ficcionado pelos sentidos. Quanto de mim corresponde à verdade do que sou e quanto do que me achas é apenas fruto da tua imaginação, da tua boa vontade.

Olha para mim. Abre bem os olhos. Disponibilizo-me todo para que me possas observar como queiras. Pega nos teus instrumentos de análise. Traz os livros de psicologia, psicanálise e psiquiatria.  Autopsia-me os sentimentos, abre-me o coração e a cabeça, destila os quatro humores, sintetiza as secreções internas, colhe amostras, faz biópsias e certifica-te que sou MESMO o que de mim pensas. Não te quero enganar, nem deixar que te enganes a meu respeito.

Olha para mim.
Diz-me o que vês.
Dizes?


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