Estou numa casa sem tv cabo e portanto, estou condenado à estupidificação de cada vez que ligo a televisão. É verdade que cada vez vejo menos televisão e cada vez menos sinto a falta. Na escola, existe um aparelho de tv na sala dos professores que, para mal dos meus pecados está sempre ligado. Ora, durante a manhã e a tarde, mesmo que não queira acabo por ser forçado a ouvir alguns dos programas que por lá passam. Acho uma vergonha. Todos eles. Com a excepção da RTP2 que tem uma programação infantil durante uma boa parte do dia (poucos serão os miúdos que assistirão aos bonecos, mas...) todos os outros canais têm os mesmo programas, com os mesmos tipos de convidados, temas, apresentadores e público.
Ao ver um desses programas apercebo-me que os estúdios de televisão são hoje grandes centro de dia para cuidados paliativos geriátricos. De má qualidade. Lamentável que entre estórias de vida e casos reais em que se explora a miséria humana, a pobreza de espírito de uns e a falta de sorte de outros, se façam apelos à participação em pseudosorteios (não serão antes azareios?!) através de linhas telefónicas de valor acrescentado para atribuir supostos prémios em cartão de valor X, Y ou Z. É isto que hoje temos na televisão. Um dos meios de comunicação mais poderosos e influentes, limita-se a receber cidadãos séniores e aos outros que não consegue albergar saca-lhes o dinheiro da reforma por meio de expedientes pouco claros.
Para ajudar a compor o cenário, aos fins-de-semana é mais ou menos a mesma coisa, mas em vez de velhotes e de estúdios, temos palcos e cenários de mau gosto, por onde passam artistas ditos populares (eu não os conheço!) acompanhados por aspirantes a bailarinas que a única coisa que fazem é mostrar grandes percentagens de corpo roliço, que vão agitando ao som de algo vagamente parecido com música. Nos intervalos das atuações lá aparecem os mesmos palermas a apelar ao povinho que ligue para o número que eles vomitam cinquenta vezes por minuto.
O que aconteceu à televisão? Não há uma série, um filme ou até um programa de entretenimento que não imbecilize ainda mais este nosso povo? Estamos a viver uma ditadura de reality shows, novelas e noticiários em tom português suave. Discute-se mais os penteados dos jogadores de futebol, do que as razães pelas quais o Ricardo Salgado não está preso. Fala-se mais da Casa dos Segredos do que do Orçamento de Estado. Glorifica-se o putativo futuro candidato a Primeiro Ministro sem se lhe conhecer uma ideia concreta para o país.
O que dizer de um país que teve (tem?) um Governo que manda terminar um programa cultural como foi o caso do Acontece, na RTP2 e que em troca tem agora um canal que durante 24 h por dia, sete dias por semana se dedica a dar visibilidade às "estrelas (de)cadentes" que estão na Casa dos Segredos? São estes os modelos que queremos para as nossas crianças e jovens? Quantos são os pais que vêm estes programas com os filhos e se dão ao trabalho de explicar aos garotos que aquilo que ali se passa, para além de errado, é criado e provocado por uma produção que muitas vezes parece tão acéfala e ignorante como os concorrentes que escolheu?
Enquanto estivermos neste ambiente degradado e degradante com a cumplicidade de todos e com a ajuda preciosa dos meios de comunicação social que temos, não estou a ver grandes saídas para o país.
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