quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Mimos

Depois de um dia de trabalho, chegar a casa. Meter a chave na porta e entrar. Sentir o silêncio pela casa e ver as partículas de pó iluminadas por um raio de sol que teima ainda em entrar pela porta-varanda da sala. Pousar as chaves e a pasta, subir as escadas, entrar no quarto, deixar a roupa em cima da cama e abrir o duche. Fechar os olhos e deixar a água morna levar o cansaço, o suor. Perder-me do mundo lá fora e sentir as gotas de água escorrer pela cabeça: cabelo, testa, pálpebras, nariz, lábios e queixo. Beber um gole ou dois. Deixar-me sentar no duche e ficar por momentos, debaixo da chuva. Lembrar-me de ti. Começo a esquecer o teu rosto, sabes? Lembro-me que querias sempre que tomasse banho contigo. Que te lavasse as costas. Não me pedias com palavras. Limitavas-te a encostar as tuas costas contra o meu peito. Lavava-te com cuidado, mas com força, até ficares com a pele bem vermelha, como gostavas.  Depois, enquanto me virava para pôr shampoo ou gel de banho, abraçavas-te a mim. E eu gostava quando sentia as tuas mãos a percorrer-me o peito. A tua cara encostada às minhas costas, os braços por baixo dos meus, as mãos nos ombros, num abraço tão cheio de paz.
Sentir a tua pele na minha sempre foi algo de mágico de  intenso.O momento em que os nossos dedos se tocaram pela primeira vez é algo que não consigo, nem quero esquecer...
O duche acabou e enquanto me seco e visto, olho para os ponteiros do relógio e faço contas rapidamente ao tempo que tenho para te ir encontrar. Ainda dá para te escrever um bilhete para o deixar escondido na tua mala ou num qualquer bolso ou talvez debaixo da almofada. Só quando escrevo o teu nome, sinto o sabor amargo da recordação: já cá não estás. Não te vejo mais. Não sei de ti desde há muito.
Sei apenas o que a memória teima em não esquecer: o cheiro do teu perfume, que não sei o nome, mas que me assalta os sentidos cada vez que me cruzo com alguma mulher que o usa; os teus olhos doces, castanhos e levemente trocistas quando querias meter-te comigo ou carregados de ternura quando te abandonavas no meu colo a receber mimos (e tantos que me davas, mesmo estando só encostada a mim!); o sorriso. Tímido, mas tão sorriso!

Desço à cozinha. Penso no que hei-de fazer para jantar.
Mimos. O que quero para jantar hoje são mimos.
Prato principal? Abraços, sem quaisquer dúvidas!

Alguém para jantar?

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NB - Não sendo 100% real, não é totalmente falso. Não sendo baseado em factos verídicos, será pelo menos baseado em factos imaginados e, aqui e além, desejados. O convite para jantar mantém-se. "Without any hope or agenda..."

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