segunda-feira, 31 de outubro de 2011

No meio da ponte (capítulo 4)

"Sinto-me perdida. Cada vez mais perdida. E no entanto, sei onde estou, mas não faço a mais pequena ideia de para onde quero ir. Apetece-me desligar. E ao mesmo tempo apetece-me abraçar o caminho. O desespero que sinto é tão fundo, que quase me paralisa e impede de pensar.

A escolha é simples: ou um ou outro. Já sei de antemão que escolha eu o que escolher, terei sempre algo a ganhar e outro tanto a perder. Sei que serei feliz, a espaços, num e noutro. Mas sei que serei julgada. Por todos os que deveriam gostar de mim. Que justificações dar aos outros? Porque raio acho que tenho de me justificar perante os outros? Não somos nós que fazemos o nosso próprio caminho? Então que me dêem liberdade para escolher. E para assumir as consequências das minhas escolhas. Quem gosta de mim, quer ver-me feliz.

Porém há outra questão: que justificações darei a mim mesma? Como poderei justificar perante mim mesma, o abandono de um caminho e a escolha de um outro? Que situação estranha, esta em que me encontro! Nunca pensei que me pudesse acontecer. Não a mim. Eu tinha tudo planeado! Sempre tive certezas e valores e ideias bem definidas sobre o que podia e não podia ser. O que me podia e não podia permitir. E de repente, tudo cai por terra, num ápice. Sem que tivesse feito nada para que assim fosse. Aconteceu. Simplesmente aconteceu!

Sinto-me a perder o chão, como se a ponte estivesse prestes a ruir. As fundações do que sou, estão a ser abaladas e não sei se consigo manter-me de pé. Sinto-me fraca, sem ter ao que me agarrar. Porquê a mim?!
Porque haveria de ter dobrado a esquina e dado com outro caminho? E que tem esse caminho de tão especial, que me faz pôr em causa o que percorri até hoje? É só a novidade? É a perspectiva de novas paisagens, novos desafios? Ou estou a desafiar-me a mim mesma? A estabelecer novos limites, levando mais longe os meus limites de sempre? (Re)descobrindo em mim novas áreas por onde posso crescer enquanto pessoa e mulher? Porque raio tem este caminho de me cativar desta forma?

Olha, espera! E se não for tão severa comigo mesma? E se me permitir ser imperfeita? Afinal, se consigo ser tolerante com os outros, porque motivo não consigo ser mais tolerante comigo? Eu sei que não sou perfeita! Tenho até uma opinião negativa sobre mim mesma. Mas porquê, se até há quem me diga que sou assim e assado e que me faça sentir bem e especial? Quando há pessoas que abertamente me declaram que gostam de mim, que me acham brincalhona e bem-disposta, porque insisto em ver em mim apenas o que de menos bom por aqui anda? Serei capaz de me perdoar? Serei capaz de me dar uma hipótese?
Afinal, a única coisa sem solução é a morte. O resto, sempre se arranja uma maneira, um jeito de de consertar, de tornar melhor. Nada é irreversível. Claro que depende da vontade dos envolvidos. Mas isso é sempre assim. Para o bom e para o menos bom.

Se me permitem sonhar, porque não hei-de poder permitir-me tornar o sonho real?"

No meio da ponte (capítulo 3)

"Olá! Eu sou um dos caminhos que espera pela tua decisão.

Nada sei sobre o outro caminho. Apenas que és tu e a ponte que nos ligam. Vejo-te aí sentada, no meio do tabuleiro da ponte e não consigo evitar pensar em ti. E na dificuldade que deves sentir em conseguir pensar, quanto mais chegar a uma conclusão.

Sabes, não querendo diminuir a minha responsabilidade em relação ao que sentes, a verdade é que foste tu quem me colocou onde estou agora. Sim, claro que já tinha reparado em ti. Na tua simpatia, no teu sorriso de menina travessa, na forma como estás: tens presença! É fácil reparar em ti. Mas eu não fiz nada para reparares em mim. Limitei-me a ser eu. Um caminho banal e, aqui e ali, gasto. Usado e marcado pelas solas de quem por mim já caminhou.

Tenho ainda recantos pouco vistos e visitados e gostaria tanto que me percorresses um dia. Por muitos dias. Não que seja algo de extraordinário. Não que ache que sou único. Mas apenas porque há partes de mim, que só tu viste. E há outras que me apetece desvendar só a ti. E se tudo mudou, foi porque algo dentro de ti te despertou para a possibilidade de experimentares um novo caminho. E fiquei mesmo muito surpreendido por ter sido eu. E feliz. Sim, feliz! Porque essa é a verdade: fazes-me sentir bem, cuidado, acarinhado e feliz. E gosto de saber que existe a possibilidade de podermos partilhar e construir o nosso mundo, a nossa realidade e a nossa felicidade. Os dois. Ou os quatro! ;)

Gostava de ter uma solução milagrosa, rápida e indolor. Não tenho. Lamento...
Custa-me ver-te sentada, com a cabeça pendente, a olhar para as pedrinhas que estão incrustadas no alcatrão que cobre o pavimento, a fazer desenhos com um pauzinho, como quem rabisca o futuro ou faz contas de deve e haver, pesando os prós e os contras da decisão que tens para tomar. E eu sei que tens de fazer tudo isso. É natural!

Só quero que sejas feliz. Mesmo feliz. E que abandones essas ideias tolas, que é mais fácil ser infeliz, e que preferes ser infeliz do fazer os outros infelizes. É a segunda noite que passas na ponte. E se de dia a tua ausência é relativamente fácil de aguentar, à noite custa mais. Principalmente porque com a escuridão da noite, não te consigo ver sentada no alcatrão. Sei que estás lá. Sei que de vez em quando olhas na minha direcção. Sinto o teu olhar cravado em mim, nessas ocasiões. E sabe-me tão bem!

Vou continuar à espera. Sem te pressionar.
Porque apesar de tudo, gosto de ti. Assim simples, sem pressões ou planos.
Gosto muito de ti! :) "

sábado, 29 de outubro de 2011

No meio da ponte (capítulo 2)

"Decidir o que fazer, não é MESMO tarefa fácil. Decidi que, para já, me vou sentar no meio da ponte.
No meio da tabuleiro, que sentar no passeio quase não tem risco, e a dor que sinto, precisa de algo mais forte para ser aplacada. Não quero ser atropelada. Vou apenas ficar sentada no meio da ponte. Ponderar os riscos e os benefícios de optar por um dos lados da ponte.

A verdade é que é tudo incerto, sem regras rígidas, sem determinismos bacocos, sem certezas absolutas.
Aqui, sentada na ponte, vou-me confrontando com o que sou, com o que quero, com o que penso, com o que desejo. Com vontades, desafios e com medos.

Apetece-me ir. Mas sei que tenho de ficar. Apetece estar, mas não é possível. Quer dizer, é possível, só não é conveniente. Penso até que poderia ser contraproducente. Apetece largar tudo pra viver o que tenho tanta vontade, porém preciso de controlar e mitigar a urgência do que sinto (sinto mesmo ou apenas penso que sinto?)

Olho para os caminhos que se colocam à saída da ponte. Sei que de um lado tenho o conhecido, que me dá algum conforto, que não me exige grande esforço, com que convivo há algum tempo. E que se por um lado me satisfaz e me completa em tantos aspectos, por outro tem inconvenientes que também conheço, mas com os quais estive (estou?) disposta a conviver. É uma zona de conforto. É uma segurança, mesmo que aqui e ali, seja fonte de insatisfação. E tenho planos. Planos que nem sempre me agradam. Até consigo conviver com alguns deles, mas não com todos eles. E está a ser difícil, cada vez mais difícil conviver com esses planos. Não são a minha vontade. E estou preparada para os aceitar. Até para participar deles, se tiver de ser. Acho que tem de ser, porque prefiro ficar infeliz do que fazer os outros infelizes." (Que lógica é esta?!)

"Do outro lado da ponte há um caminho novo. Que ainda não percorri. Que me enche de curiosidade e de vontade de conhecer. Porque do pouco que conheço, me parece interessante e porque me faz sentir coisas que já senti antes quando descobri o caminho anterior, Coisas boas, que me põem um sorriso nos lábios. mas que me carregam o coração. Na verdade, sinto-me culpada por me sentir bem com a perspectiva de percorrer este novo caminho. Além disso, tenho a impressão que há muitas coisas com as quais me identifico com este novo caminho. Embora ainda seja cedo, tenho vontade de de o abraçar e de seguir com ele de mão dada.

Mas e o outro? O que faço ao outro? Não sei se o quero deixar. Não sei se há em mim, a coragem necessária para lhe virar as costas. E o que vão dizer e pensar os outros que esperam, sempre esperaram que seguisse aquele caminho até ao fim? E o que estou a sentir? Será possível gostar de ambos? Porque não posso fazer os dois caminhos ao mesmo tempo? Que leis da física e dos homens são estas, que nos impedem de viver mais do que uma realidade? Não será possível fundir os dois caminhos num só?
E se a realidade que estou a viver não for real? E se na verdade não estiver no meio de uma ponte, mas numa encruzilhada da minha vida, em que razão e emoção dizem coisas tão diferentes que me deixam dividido? Sem saber que caminho seguir? Sem saber o que decidir? Sem me conseguir orientar por forma a fazer o que tenho a fazer? E o que tenho a fazer?

Vou parar. Vou parar. Vou parar!
Vou-me permitir respirar fundo. Inspirar profundamente e expirar lentamente, até não sobrar nada. Nem ar nos pulmões, nem pensamentos na cabeça, nem sombras no coração. E quando tudo for uma coisa só, aí, estarei preparada para tomar decisões." (eu também...)

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Sons! #0

No meio da ponte

"No meio da ponte, parada, a olhar o vazio sob mim. A sentir o vento a rodopiar à minha volta. A olhar o rio que corre, aos saltos por entre as pedras e as nuvens que deslizam no céu. De um lado da ponte, o que já conheço. E de que gosto. Do outro lado da ponte o que ainda não conheço bem, mas de que aprendi a gostar. Cá dentro paira a dúvida sobre o que sou, sobre o que quero e sobre o que sinto e a profundidade do que sinto. Por mim, e pelos caminhos que me esperam nos extremos da ponte.

Vacilo entre o conhecido, familiar, confortável e o menos conhecido, que me atrai e aparentemente me parece cativar a cada toque, gesto e olhar.

Sinto crescer em mim, a dúvida entre o que acho que quero, o  que acho que sinto, e aquilo que os outros me dizem querer e de mim esperam. Sinto-me pequena. Demasiado pequena para ser obrigada a fazer uma escolha, em que para onde quer que olhe, me sinto a perder. Porém, todas as escolhas implicam perder algo. Claro que posso sempre tentar ver o que ganho com a escolha. E certamente que terei algo a ganhar. Muito até. No imediato. E provavelmente no futuro. Mas viver por conta de algo que pode vir a acontecer, impede-nos muitas vezes de apreciar o que nos é oferecido no presente. Muitas vezes temos o que precisamos e não o que desejamos.

Volto a mirar cada um dos extremos da ponte, a ver se descubro um sinal, uma pista, qualquer pequeno sobressalto do coração que me indique o caminho a seguir. Mas o coração está cansado. E a cabeça cortou relações com ele. Baralha-lhe o raciocínio. Fecho os olhos e apelo ao coração para que abra os dele: afinal, só vemos bem com os olhos do coração. E eu não sou excepção. Preciso de deixar o meu coração ter o tempo e o espaço suficiente para se poder libertar de tudo o que o oprime e deixá-lo falar. Sei que ele se vai queixar que durante muito tempo não lhe dei ouvidos. Que fingi que não o ouvia. Enterrei a sua voz nas coisas do dia-a-dia. No trabalho, na família, nos amigos, nos outros, em coisas que pensei que me preenchiam e faziam feliz, e esqueci-me de que tudo isso me afastou da pessoa mais importante que há no mundo: de mim mesma.

E agora, no meio da ponte, pondero as minhas opções: ir pelo caminho que já conheço, e que me trouxe onde estou; ir pelo caminho novo e esperar (e também fazer!!) para que corra bem ou sentar-me no meio da ponte, esperar que me cresçam as asas e ousar saltar para fora de mim. Sim. Para fora de mim. Rumo não sei bem a quê. Ao desconhecido, certamente. E quem sabe não surge algo novo em mim? Um novo eu?
É tempo de enxotar a nuvem negra que (acho!) me persegue. Afinal, uma nuvem não é mais do que vapor de água. Vou fazê-la chover. Com a chuva que dela cai, lavo a alma.

Vai que decido saltar, mesmo sem asas? Vou de alma limpa, de encontro ao Criador. Porque não sei se virá alguém ao meu encontro, a meio da ponte para me impedir de saltar sem asas e sem rede."

Eu vou.

Parecido com as tostas

Estou em modo tosta mista.
Nem bem nem mal, antes pelo contrário e vice-versa.
Oscilo entre a alegria e o melancólico. Entre a esperança e o conformismo. Entre o abraço e o vazio. O desejo feito de loucura e a loucura de desejar o que não me cabe desejar. A vontade de estar e ficar e a realidade longínqua de ver e tocar de fugida.

Sei que gosto. É verdade que gosto. E que gosto de verdade. Mas não sei muito mais. E do não saber, surge a dúvida. Que se dissipa quando falo contigo. Quando te abraço e te toco. Quando sentimos o calor do corpo do outro, tão perto. E partilhamos segredos gritados no silêncio do coração. Porque o que é simples, é especial. E tu és especialmente simples. Ainda que por vezes possas sentir o contrário!

A vida é feita de acasos. E foi  um acaso que nos cruzou os caminhos. E talvez seja um teste (mais um!) à resistência do que sou. E eu descubro-me mais resistente do que alguma vez fui. Com fraquezas, certamente! Mas ainda assim, com uma capacidade que se revela sempre nova de ir resistindo aos revezes da vida.
Tu não és um revez.

Independentemente do que venha a acontecer és, já hoje, uma certeza. A certeza de que em pouco tempo te tornaste em alguém imprescindível e que seja qual for o desfecho da estória, não me é possível apagar-te de mim. És especial e única!

Gosti!

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Primeiras chuvas

Hoje andou a ameaçar chuva. O dia todo.
Caíram uns pinguitos aqui, e outros ali, mas nada de sério.
Chuva, chuva só com a chegada da noite.

E, ainda assim, apesar da chuva, do frio, do vento e da trovoada, há um lugar onde o frio não entra, a chuva fica à porta, e a trovoada se sente com muito menos intensidade. Há pessoas que são como locais onde nos queremos sempre abrigar do mau tempo que faz lá fora. Há pessoas que são como locais onde nos queremos sempre abrigar do mau tempo que, às vezes, faz cá dentro. Há pessoas que são como locais que queremos tornar nossos. Uma e outra vez. Enquanto for possível e agradável.

E como é bom ter abrigos que nos acolhem, que nos abrem as portas e as janelas (e portas e janelas bonitas!).

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Novo round

De cada vez que começo a sentir um pouco menos de pressão, algum alívio, que começo a andar menos encolhido, com os ombros mais direitos, a acreditar que pode haver algo de bom e positivo, tem acontecido alguma coisa que me lembra que a guerra ainda não está ganha e que há ainda mais um round para disputar.

Não deixa de ser curioso. Porém, estas quebras no ânimo e na moral das tropas começam a ser frequentes e embora não sejam agradáveis, já me começo a habituar (estranhas as coisas a que nos habituamos!). Para mim é só avaliar os estragos, levantar (ainda vai dando para me levantar), sacudir o pó e seguir em frente. Sabendo que no caminho, encontro sempre algum conforto. Mesmo quando não há sombra e a estrada se torna numa pista de deserto, aqui e ali há uns quantos oásis onde sei que posso ficar e tenho a certeza de ser bem acolhido.

E agradeço por isso!

Evolução na continuidade

A propósito deste post, cumpre dizer o seguinte:

Não vou pedir desculpa do que escrevi. Escrevi porque foi o que senti perante aquela situação em particular. Porém, admito que me terei excedido na linguagem utilizada. Assim, e depois de ter falado com algumas pessoas, e ter pensado que o que me diziam faz algum sentido, venho cá dizer-vos que não vou perder mais tempo a dar importância a quem não a merece. Não se trata de desprezar ou maltratar. Trata-se tão somente de dar o real valor que têm os comentários e as pessoas que os emitem e reproduzem: muito pouco!

Não tenho a pretensão de que toda a gente me ache simpático ou que goste de mim. Portanto, e no seguimento de uma ideia que tenho vindo a implementar na minha vida, dar(-me) na medida em que recebo, não pretendo mais destilar veneno ou alimentar sentimentos negativos contra alguém, principalmente aqueles que, sem se quererem dar ao trabalho de conhecer aqui o sapo, se propõe dissecá-lo numa aula de Ciências.

Façam o amor. Pratiquem o amor.
Sejam a mudança que querem ver no mundo!

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Na ressaca do fds

Fim de semana muito bom.
Amigos de visita com direito a passeio e companhia. Conhecer sítios novos, percorrer caminhos desconhecidos e ver tudo com olhos de criança, que descobrem coisas invulgares até na mais familiar das paisagens.
Gente simpática, daquela com quem não há cerimónias, nem formalismos nem receios de que nos julguem ou maltratem, ou interpretem de forma errada.
Descontração e naturalidade.

Também noutro plano: descontração e naturalidade. Desarmantes. Porque inesperadas. E ainda assim, tão profundamente boas e prazenteiras.

A vida é mesmo cheia de surpresas!

sábado, 22 de outubro de 2011

Hoje

"Life's a box of chocolates, Forrest. You never know what you're gonna get."


Não sei o que vai sair, mas estou cá para ver.
:)

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Outubro

Em Outubro, o tempo muda. Tarde mas muda.

As árvores perdem as folhas, mas antes de se reduzirem à sua expressão mais simples, de cabides gigantes, prontas a receber os casacos todos do mundo, oferecem-nos um espectáculo de luz e cor inigualável. Perceber os cambiantes das cores douradas e avermelhadas das folhas; poder assistir, sentado num banco de jardim, às correrias que o vento faz por entre as folhas que se aguentam estoicamente agarradas aos ramos; assistir à sua queda lenta no chão; poder brincar como os garotos numa pilha de folhas, amontoadas para apanhar e espalhá-las novamente, dando pontapés e vê-las esvoaçar e imaginar o pânico de uma hipotética formiga que por lá andasse perdida. Que grande aventura teria para contar quando voltasse ao formigueiro!

Em Outubro, chega o frio. Vá, o calor diminui. Pelo menos de manhã e ao fim da tarde. Dá vontade de vestir roupa mais quente e usar casacos. E de me sentir quente por dentro, enquanto o frio me esbofeteia a cara e me faz chegar corado ao destino. Em Outubro chegam as castanhas e os magustos e a jeropiga. E relembram-se magustos de infância com idas ao pinhal apanhar caruma e uma velha telha de zinco que era colocada no chão do pátio para não sujar o chão, onde se dispunham caruma, castanhas e sal, em camadas generosas. No murinho que existia, ficávamos sentados a ver o lume a queimar, a caruma e a assar as castanhas. Era fim da tarde e quando o lume se consumia, esperava-se um bocadinho e com jeito ia-se à procura das castanhas. Quente e boas! Verdadeiramente quentes e boas! O ritual de lhes tirar a casca, de ficar com os dedos carregadinhos de fuligem e corrermos uns atrás dos outros para nos enfarruscarmos. Claro que no final havia correrias e gritos e brincadeiras. E uma barrigada de castanhas! Não me lembro se nesses dias jantávamos, mas é provável que sim!

Em Outubro começa a custar mais ir à casinha. Principalmente ao trono. Porque aquela parte de desapertar as calças faz com que haja demasiada ventilação nas pernas. E convenhamos, os tampos das sanitas são frios como o demónio. Já dei por mim a descer as calças o mínimo indispensável. Em vez de ser até aos tornozelos, ficam ali pelo joelho ou até um pouco mais acima. É isso e tomar duche de manhã. Custa! E depois de tomar, não apetece sair da casinha! É tudo ao contrário.

Em Outubro, conheci-te de outra forma. Tocavas-me ocasionalmente quando passavas por mim. Em Outubro, tocaste-me os dedos. Brincaste com eles. Permitiste que brincasse com os teus. Que os afagasse. Em Outubro abracei-te, com o pretexto do frio que dizias sentir. Larguei-te cedo. Demasiado cedo. Podia ter aproveitado mais e melhor. Ainda assim soube-me bem. Até os ombros deram conta! 
Gosto de Outubro. E de ti.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Está a faltar alguma coisa?

Vejamos: teste a duas turmas; estão todos corrigidos.
Ficha de trabalho pronta para a aula de amanhã às 9h, só falta fotocopiar.
Amigos a caminho para um fds que se quer bem passado.
O calor começou a diminuir, o que é um alívio para mim.

E hoje foi um dia em que fiz algumas coisas do trabalho, em que estive na conversa com os alunos, em que (acho!) que os deixei a pensar na vida e no mundo que os rodeia de uma forma um pouco diferente.
Em que estive mais tempo do que o costume na escola, mas em que aproveitei melhor o tempo. E em que me fui fazer a vontade de estar com alguém de quem gosto. E me soube bem.

Hoje foi o dia em que me disseram que estavam a estranhar a ausência dos bons dias. E que estavam à espera do post. (Aqui vai! Já falta pouco!)

Hoje foi o dia em que me ri muito. Muito mais do que nos dias anteriores. E gostei, claro! Dia de jantar com pessoas bonitas. Com aquelas pessoas que nos fazem ter fé no mundo e nas outras pessoas em geral. Que nos aquecem e a quem aquecemos do frio. E de quem gosto. Um bocado. Grande.

Dia de (finalmente!) me encontrar um pouco melhor comigo.
E perceber, que no meio de tudo, há sempre alguém que está disposto a estender-nos a mão. E fazer sentir que se calhar não nos vemos melhor, porque temos o olhar deformado pelas opiniões de quem não nos quer bem.

E mesmo agora, tenho um sorriso na cara!

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

O que desejo pode não ser o que preciso

Como se equilibra o que se sente, com o que se deseja, quando tudo o que se deseja é sentir?

Que misteriosa matemática aplicamos para subtrair dores, tristezas e melancolias e adicionar sorrisos, alegrias e calor que tragam paz ao coração e à alma?

Como é que se age com cautela, prudência e cuidado e a mesmo tempo se consegue sentir tudo o que se deseja e desejar tudo o que se sente?

Onde está o ponto certo, do equilíbrio?

Como se refreia o entusiasmo e a vontade de estar, de ser e de experimentar?

Como se ponderam os argumentos de um lado e outro?

Quais são os critérios que devemos utilizar, quando o nosso coração nos impele a saltar para dentro de algo estimulante, agradável e interessante, e a cabeça, não sabe muito bem se deve permitir que as pernas e os braços e os dedos agarrem o que o coração lhes indica?

Estou a precisar de férias de mim. Com urgência. Sob pena de não me conseguir encontrar mais.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

ainda a propósito do post anterior


Calhandreiras, coscuvelheiras, alcoviteiras & afins

O título deste post vem a propósito de uns comentários que umas quantas desocupadas, infelizes e muito fora-do-prazo que pairam por aí, andam a fazer a respeito aqui do sapo. Eu que sou bicho pacato, e que me gosto de dar bem com toda a gente, tornei-me juntamente com outros três, alvo de comentários, só porque chegamos às 9h da manhã bem dispostos e sorridentes e porque, nos intervalos nos rimos à parva de qualquer coisa. É terapêutico e não prejudica ninguém. Não prejudica, mas aparentemente incomoda. TEMOS PENA! :)

Só vos tenho a dizer, suas v*cas mal-f`*didas, que não pretendo deixar de me rir ou de estar com quem me apetece única e exclusivamente por vossa causa. Reúnam-se prái e cortem à vossa vontade.
Um dia mordem a língua e caem para o lado.
Fri(gid)as e (finalmente!) tesas.

(ui! isto hoje está forte!)

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Consciência de si

Termos consciência é tramado. Principalmente se formos daquele tipo de pessoas que ouve a consciência e fica a pensar nas mensagens que dela recebe. Porque  isso significa que se tem valores. E nos dias que correm, ter valores é tão pouco fashion. É antiquado sem ser retro. É coisa antiga sem ser kitsch. Porque se fosse uma dessas coisas, estaria totalmente in, já que hoje assiste-se a uma onda revivalista.Pena que seja mais orientada para o consumo de produtos do que de ideias. Mais preocupada com o individuo do que com o colectivo.

As manifestações que estão por aí a despontar merecem alguma reflexão, e embora eu não me tenha disposto a analisar muito o que se passa fora de mim e do meu charco, porque por vezes dá muito jeito desligar dos problemas e ser chamado de ignorante para se viver um pouco melhor. No entanto, há uma ou duas coisas que quero partilhar convosco.

Há um mal-estar latente (cada vez menos latente e mais presente) que atravessa a sociedade dos países ditos civilizados que possuem sistemas políticos ditos democráticos baseados na escolha livre(?) dos seus cidadãos, contra o modelo económico que nos nos tem orientado nas últimas décadas, desde pelo menos o pós-II Guerra Mundial. Este modelo económico está esgotado. E está esgotado porque não está a redistribuir a riqueza que produz. Os CEO das grandes companhias transnacionais, sentados nas suas poltronas, no topo de torres de marfim comandam o destino de nações inteiras. Não me parece que o poder esteja nos governos dos países. Ou nas Nações Unidas. Muito menos no Parlamento Europeu ou Comissão Europeia. O verdadeiro poder está em quem faz as jogadas nos mercados internacionais, sejam eles de matérias-primas ou de ações e fundos ou de futuros.

Perpassa uma falta de valores éticos e sociais nas organizações e nas pessoas. Dá-se conta que cada vez se vive pior. Que a insatisfação é crescente, porque a maior parte das pessoas cumpre com o que lhes é pedido e mesmo assim é continuamente "o cepo das marradas" dos cortes cegos. E com cada vez mais dificuldade para manter um nível de vida aceitável.

E o que tem isto a ver com consciência? Muita coisa. Quando todos tomarmos consciência de nós, todos teremos tendência a estar mais atentos às necessidades dos outros. E acima de tudo para percebermos que como seres humanos valemos pelo que somos e não pelo que temos e ostentamos. E isso é fundamental para nos sentirmos mais felizes. E não é a felicidade o objectivo de vida de todos nós?

domingo, 16 de outubro de 2011

pensamentos de domingo de manhã

Houve alguém que me disse que, aqui no charco, me mostrava sem medos, sem receios de me revelar como sou. É simples de responder: sou um sapo. Não tenho nada a temer. A menos que o aquecimento global acabe com todas as zonas húmidas do planeta e o meu charco evapore.

Quer isto dizer que o sapo que sou serve de capa. De escudo protector. Até porque os sapos são uns bichos que devido ao seu aspecto causam repulsa a muita gente, com a sua pele verde sempre húmida e os olhos esbugalhados. Para mim, tanto melhor!

Prefiro poucos e bons, do que dar-me a muitas pessoas que não sabem ou não conseguem ou não querem lidar com as outras pessoas sem ser através de mentiras, histórias (estórias?!), interesses mais ou menos obscuros.

É triste ver a incapacidade que a maioria das pessoas tem de ser e de se aceitar como  é. Sem artifícios. Sem máscaras. Sem nicks ou avatares. E contra mim falo! Porém. os nicks e os avatares são necessário, porque nem toda a gente merece conhecer e ter contacto mais próximo aqui com o sapo. Nem todas as pessoas estão preparadas para lidar comigo. E isto não é fanfarronice ou mania de que sou melhor do que os outros. É apenas a consciência imperfeita do quão imperfeito sou. E ainda assim, tendo dito isto, sinto-me um pouquinho mais consciente do caminho longo que tenho a percorrer.

Para as pessoas que não sabem o quão imperfeitas são existe o outro: o que tem cartão do cidadão, paga impostos e vai deixar de receber subsídio de férias e de natal. Que tem uma história muitas vezes semelhante com o sapo, mas outras vezes muito distante porque não acredita(ou) nele mesmo, se acha pior do que é e se vai deixando guiar pelo medo ao invés de se afirmar como homem. E isso implica ter consciência de que se cometem e cometerão erros. E aceitar que os erros, por muito grandes e por mais consequências que tragam, fazem parte da nossa existência enquanto seres humanos. Fazer o quê? Tentar errar menos. Tentar estar mais atento para evitar cometer os mesmos erros. Pedir desculpa pelos erros cometidos. Tentar repará-los se possível.

Já que temos de errar, pelo menos que sejamos capazes de cometer erros novos.
Para aprendermos lições novas.
Faz parte de crescer.

Bom Domingo!

sábado, 15 de outubro de 2011

do blog

Ontem dizia-me uma amiga que frequenta este charco que, qualquer dia, deveria publicar um livro com os melhores posts. Até porque tenho cada vez mais visitantes no blog. Dizia ela. Mas a verdade é que o número de visitas até tem diminuído. (E pergunto eu: melhores posts? Como assim? Estava convencido que todos eles estão no nível da excelência e da perfeição. Como poderia eu escolher os melhores? É como pedir a uma mãe ou a um pai que escolha o melhor do seus filhos!)

Sim, mesmo tendo afirmado que escrevo para mim,  para deixar que algumas das coisas que sinto sejam verbalizadas e assim saiam de mim e se resolvam de forma mais rápida e simples, a verdade é que reparo no número de visitas da página, nas estatísticas, nos seguidores (e não é que são todos meninas?) e nos comentários e tudo e tudo.

Escrever um livro, é coisa que nunca me passou pela cabeça. Embora já me tenham dito que sim, que até levo jeito na escrita e que por isso poderia escrever mais a sério. Mas não me sinto minimamente atraído pela ideia. Primeiro porque a minha escrita não é assim tão interessante. Segundo, porque o que poderei eu ter a dizer de novidade que justifique a compra de um eventual livro meu? Terceiro, hoje em dia qualquer um lança um livro. Mesmo que seja analfabeto. E que não tenha assunto. Quarto, porque aquilo que aqui escrevo é resultado do momento, da inspiração (ou da falta dela!) Quinto, porque para obrigações já me chega o trabalho e as contas para pagar.

Assim sendo, e para quem me acha algum sentido, nexo, piada ou apenas goste de ler os meus desabafos do espírito está aqui este charco, sempre aberto. 24h por dia. E também à noite, se pedirem muito!
Pedidos personalizados só mediante orçamento. E para o mail. :)

click! #5

P'ra lá dos montes, o mar.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Quando se fecha uma porta abrem-se janelas

Este ano, encontrei neste charco, duas janelas.

Daquelas de madeira, bonitas. Bem tratadas por dentro, sem bicho. Por fora, até podem aparentar que têm a tinta a estalar ou que lhes falta um pouco de verniz. Ou que já as abriram e fecharam com violência, como se fossem elas as causadoras do mau-estar que quem as abriu e fechou. Não têm vidros duplos, nem fechos de segurança. Mas são confiáveis e seguras.

Têm os vidros quase sempre limpos. E quando sorriem, o sol irrompe pelas vidraças e ilumina o rosto de quem à beira delas se põe. Dá gosto poder ver janelas tão de bem com a paisagem que permitem ver e ao mesmo tempo tão tranquilas com o que resguardam de olhares curiosos. Estas janelas têm portadas. Para se protegerem das pedras de quem, passando na rua e vendo janelas tão airosas, sente necessidade de partir um vidro ou outro para não se sentir tão mal consigo mesmo.

Ah! As janelas também têm reposteiros. Pesados que tapam a luz. Mas ainda assim, não conseguem esconder o brilho de quem lá dentro se esconde. E como brilha e como é morno e agradável o calor que se sente sair do coração, perdão, da lareira que existe do lado de dentro das janelas!

H e P: Obrigado!

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Amigos

Há amigos que nos estendem a mão. Há mãos que se estendem de quem não temos a certeza se são nossos amigos. Há amigos que não o são mais. Mas já foram e por isso, mesmo não o sendo continuam a aguardar num lugar especial do coração. Juntamente com uma réstia de esperança que um dia voltem a assumir o seu lugar na nossa vida.
Há pessoas que suspeito se vão tornar importantes. E há pessoas que já são importantes e que continuam  a surpreender cada dia mais um pouco. Começam a assumir estatuto de indispensáveis, embora, com a idade que tenho e pelo que já vivi, saiba que não há pessoas indispensáveis ou insubstituíveis.

Também acredito que há pessoas que estão connosco num determinado momento da nossa vida por uma razão ou conjunto de razões. E há aquelas que nos tocam no ombro e a marca fica. Indelével. As memórias que preenchem a cabeça e o coração são indissociáveis das pessoas que connosco as construíram. Muito embora aqui e ali, faltem peças, ou se vá dando conta que as cores começam a ficar esbatidas. Ou com manchas amarelas que o tempo se encarrega de deixar. Ainda assim obrigado por estarem presentes. Tu e o resto da pandilha que fazem questão de me ter por perto. :)

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

suspenso

À espera do que aí vem. A desejar o melhor e a preparar-me para o pior. What goes around comes around.
Podia bem estar suspenso numa trave com uma corda ao pescoço. Vamos ver qual o impacto do pontapé.
Sim. Hoje o espírito está negro. 

click! #4

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Aproximam-se algumas pequenas mudanças

Estou a ponderar seriamente mudar de casa. Esta casa onde estou é boa. Mas falta-lhe espaço. E eu preciso de espaço. Percebo isso agora.

Vou explicar: moro num anexo a uma casa. Este anexo é constituído por um quarto com casa de banho, e por uma cozinha. Falta-me um sítio para trabalhar. Porque se trabalho na cozinha, quando quero fazer as refeições, tenho de tirar as tralhas da mesa. Se estou a trabalhar no quarto, quando é hora de dormir, tenho de tirar tudo de cima da cama. Preciso de espaço. Necessito de conservar o que resta da minha sanidade mental.

Por isso, tenho andado a procurar por um sítio BB (bom e barato) por aqui. Em último caso, vou morar com uns colegas com quem me dou bem, na casa em frente. É mais uma experiência. Vamos a ver se se concretiza!

O meu coração

É tolo!
Está pior do que a minha cabeça. Parece um adolescente atacado pela Síndrome Zézé Camarinha e atira-se a tudo o que mexe. Anda num desvario. Faz-me sentir num carrossel avariado. Não pára nem que o parem. Além disso já não me lembro de há quanto tempo coloquei a ficha, mas a julgar pelas tonturas que vou sentindo, deve ter sido há imenso tempo.

Ilude-se.
Com pouco. Com muito pouco. E depois desilude-se. Com meia dúzia de apertos (daqueles que doem por dentro, sabes?) e eventualmente faz-me verter algumas lágrimas e sentir-me triste.

É drogado.
E está em abstinência. Então é ver-me a tremer, a mendigar por um qualquer pedacinho de atenção, uma migalha de sorriso, um resto de abraço, qualquer coisa que o faça ficar sossegado, calmo e tranquilo. E é tão difícil.

É genuíno. (WYSIWYG = What You See Is What You Get) Nisso é parecido comigo. Quando sofre, esconde-se, fica calado. Quando se engana fica envergonhado e um pouco atrapalhado, se esse engano prejudicou alguém. Se está tranquilo faz-me sorrir e cantar. Se está alegre provoca gargalhadas. Daquelas que fazem doer a cabeça e a barriga. Se está apaixonado, mete-me numa carga de trabalhos. Porque não sabe dizer não. E por isso é importante que eu lhe saiba dizer não. E tenho aprendido umas coisas coisas. Pretendo aprender mais: com uns tpc que me têm atribuido.

À força de querer dar e receber amor, carinho, atenção e sei lá mais o quê, corre de um lado para o outro, feito parvo. E o que consegue? Cansar-se. E cansar-me! Se ao menos depois de cansado ficasse um bocado a recuperar o fôlego.

O meu coração merece outras oportunidades para conseguir fazer aquilo para o que foi feito: sorrir e ser feliz.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

click! #3

Mais uma volta, mais uma viagem

Entre 5.ª feira à noite e hoje, fiz mais de 1000km pelas estradas deste país. Os fins-de-semana em casa são sempre óptimas oportunidades para fazer a rodagem (mais uma!) ao carro. Como se ele precisasse. Mas soube bem, tudo bem ponderado, foi preferível ter ido do que ter ficado aqui. Ainda que tenha sido uma corrida. E um disparate de dinheiro gasto. Não tem preço dormir na nossa cama. Acordar sem despertador. Descer para comer qualquer coisa. E voltar para a cama e preguiçar um pouco mais. Sabe-me bem! De vez em quando permito-me estas coisas.

Hoje antes de vir embora, fui à Loja do Cidadão. Tive de ir tratar de um assunto relacionado com o serviço de gás. A Loja estava cheia. Pessoas em pé por todo o lado. As poucas cadeiras estavam sobrelotadas. Filas à beira das máquinas para tirar as senhas. Fiquei surpreendido com algumas coisas: a quantidade de gente idosa que vai à Loja do Cidadão; a confusão que estas pessoas fazem com as senhas e os diferentes balcões das diferentes instituições; o ar impávido e sereno dos funcionários como se viver no caos fosse norma; o ruído (que chega a ser ensurdecedor, entre toques de telemóvel, pessoas a gritar ao dito aparelho, crianças de todas as cores, formas e feitios a correr pelos corredores, bebés a chorar). Suspiros. Muitos suspiros ao ver que o ritmo a que os números são chamados é tão lento, mas tão lento que qualquer caracol passa a ser um animal extremamente irrequieto. Penso que seria possível fazer vários estudos antropológicos e sociológicos bem interessantes se estudasse a fauna que por ali passa diariamente.

Depois a viagem de volta para o charco: aproveitei para pôr a conversa em dia com três pessoas amigas. Sabe bem. Falamos com os amigos, damos e recebemos notícias, jogamos conversa fora e quando dou conta, já se passou mais meia-hora e o destino fica mais perto. Este é um hábito antigo. Que me lembre, desde que fico colocado longe de casa que o tenho. Rentabilizar o tempo!

domingo, 9 de outubro de 2011

Resumo do dia

Aqui na terrinha foi dia de realização de uma actividade do agrupamento de escuteiros a que pertenci durante quase 20 anos. Assim, e aproveitando o estar por cá, resolvi ir ao local onde se realiza essa actividade para ver aquela gente que durante tanta tempo foi tão importante para mim. E fiquei triste. Poucos participantes, pouca gente a ver, pouco entusiasmo. Mas note-se: na barraquinha da cerveja, a animação era a rodos. :s

Às vezes, sinto saudades dos escuteiros e das actividades que fazíamos, dos bons momentos que lá vivi, das pessoas que conheci e do que me foi permitido aprender e ensinar. Contudo, hoje tive a certeza que o meu agrupamento não é este. O meu agrupamento era mais dinâmico e trazia mais gente à rua. O meu agrupamento preocupava-se com as pessoas e não apenas em ter lucro nas actividades que promovia. O meu agrupamento acolhia bem, e neste, as pessoas passam e nem cumprimentam. Viram a cara. Custa-me que antigos chefes meus, tenham este tipo de comportamento. Que choca frontalmente com o que me ensinaram. Que vai contra a velha máxima que diz, escuteiro uma vez, escuteiro sempre. Ainda para mais quando nada há que justifique. As acções ficam com quem as pratica.

Encontrei amigos de sempre. Que nem sempre são amigos. A vida afasta-nos. Obriga-nos a trabalhar longe. O namoro, o casamento e os filhos separam-nos. O trabalho e as obrigações separam-nos. E o que era para ser para sempre, torna-se num conjunto de recordações mais ou menos dispersas e difusas.

Encontrei amigos de sempre e senti que alguma coisa mudou. Terei sido eu, terão sido eles? Provavelmente ambos. Fiquei com aquela sensação que por vezes se tem quando não se vê alguém há algum tempo e depois dos cumprimentos se fica sem saber o que dizer.

Depois de sair de lá, resolvi ir ver o mar. A praia mais próxima é a da Figueira da Foz. E para lá fui. Acabei por subir até à Serra da Boa Viagem e assistir ao pôr-do-sol. Fiz alguns bonecos. Como estes:




Farol do Cabo Mondego

Peixe do dia. Acabadinho de apanhar!

Coimbra desde o Convento de Sta. Clara-a-Velha
Pormenor da fachada lateral do Convento de Sta. Clara-a-Velha
Arco em ogiva do que resta do claustro do Convento de Sta. Clara-a-Velha

Gosto disto!!

O sapo tem um brinquedo novo.
Mas um brinquedo que permite ao sapo partilhar com quem o visita no charco, recordações, memórias, imagens e até sonhos do que o sapo vai vendo, pensando e desejando. Coisas como estas:




Estas têm aproximadamente um ano (um pouco mais).
Vamos ver como ficarão as próximas. :D

sábado, 8 de outubro de 2011

de viagem

Ontem, chegar a Braga levou quase quatro horas. Primeira vez que fiz a viagem por este caminho. Estrada em obras. Desvios e mais desvios. Fim do dia. Sol a baixar no horizonte e  bater mesmo em cheio nos olhos. O sapo não usa óculos de sol. Faltam-lhe as orelhas para os segurar. :)

Em Braga, comer qualquer coisa naquele sítio cujo nome começa por M acaba em S e tem, aleatoriamente pelo meio as letras acDonald. É que há meses que me atafulhava com essas porcarias, e aquilo até sabe bem!

Depois chegar a casa dos amigos e conversar. Muito. Até de madrugada. Há sono? Há. E moleza? Também. E vou chegar a casa cansado? Certamente. Mas vale a pena. Cada minuto passado com amigos, com pessoas que gostam de nós, é um minuto muito bem passado. E que falta faz passarmos bem o tempo!

Em vez de perdermos tempo com coisas, percamos tempo com pessoas. Ainda para mais, pessoas inteligentes que nos desafiam e nos levam a pensar em quem somos, o que queremos e o que pretendemos para nós e para a nossa vida.

Vou ali aproveitar a oportunidade de estar com gente assim.
Até logo!

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

O dia chegou (quase!) ao fim

O cansaço começa-se a notar. Já não tenho vontade nem energia para pular mais hoje. Muito menos para coaxar.

Vou ficar sossegado na folha de nenúfar, junto aos jacintos-de-água. A ver as estrelas no céu. E a lua a deslocar-se enquanto a noite passa. E a sentir a água ficar mais fria e cobrir-se de nevoeiro. Sabe bem!

Pelo menos fica tudo igual: nevoeiro lá fora, a condizer com o nevoeiro cá dentro. Embora ache que o nevoeiro de dentro já esteve mais denso. E isso é bom. Notar que o ar está progressivamente a ficar mais leve, menos denso. E que por vezes, quase parece limpo e claro. Em contrapartida, há momentos, em que mesmo de dia, cá por dentro é noite escura. E não foi nenhum eclipse.

Com tempo, vou ser capaz de me lançar de novo no rio, em vez de me limitar a ficar no charco. É só uma questão de tempo. E como alguém me disse e eu disse a alguém, o tempo e o espaço não são importantes para quem é amigo. Porque podemo-nos encontrar em qualquer lugar, em qualquer momento. Basta querermos.

Boa noite.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Back!

Depois de ter estado impedido de aqui vir devido a falta de rede do operador de banda larga, eis-me de volta aqui ao charco.
Amanhã vou de fim-de-semana. Vai ser uma corrida, e um monte de km, mas antes isso! Fui atestar o carro, ali ao outro lado da fronteira. Parecendo que não já não me lembrava do gasóleo custar €1,279 por litro. São 14 cêntimos de diferença. Em 50 litros dá €7 de diferença. E sete aéreos é muito dinheiro. Que me desculpe o Governo, e a economia nacional. Mas começo a estar cansado de pagar. De maneiras que é assim! :)

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

O mundo está ao contrário?

Se gosto de ti,
Se gostas de mim
Se isto não chega tens o mundo ao contrário

xutos e pontapés "mundo ao contrário"

Devia ser suficiente, não devia? 
Nada mais deveria ser necessário. Mas não é assim. 
Porque sentimos e somos, viramos o mundo do avesso e, mesmo assim, fica sempre qualquer coisa por fazer, por tirar da ordem que nos impede de ficarmos totalmente satisfeitos. 'Não tenho o que quero, tenho o que preciso'. Podia dar outros exemplos de como as coisas não são bem assim, embora perceba o ponto de vista. Num mundo perfeito, seria como a letra da música. E não consigo deixar de pensar que deveria ser assim. Não por ser perfeito, mas por ser possível. Porque admitamos: existe sempre essa possibilidade. E concretizá-la, torná-la real só depende de ti e de mim. Ainda para mais quando ambos personificamos o que ela diz, no seu sentido mais literal. E sim, penso que seria interessante e também considero que é um bom ponto de partida para iniciar algo. Tanto, que não consigo deixar de pensar nas palavras que disseste (na verdade consigo, mas escolho não o fazer) pela importância e pelo impacto que essas mesmas palavras têm em mim e pelos efeitos que produzem.

Admitamos a nossa amizade incomum, a nossa ligação que perdura no tempo, apesar dos amuos e dos longos períodos de ausência que proporcionamos ao outro, não parecem ser relevantes. Se passado algum tempo, retomamos tudo no ponto em que o deixámos, talvez não tenhamos sido capazes de colocar um ponto final na história porque não o temos de fazer, porque há ainda outros capítulos para escrever. Só que mais maduros, mais confiantes, mais seguros (ou não!) do que se sente e do que se pode e quer fazer com esse sentimento.

Toma o teu tempo. Eu tomo o meu. E antes de mais qualquer outra coisa, e seja qual for o resultado da tua (derradeira?) tentativa de resolveres a tua vida, lembra-te que só te quero ver feliz. Como diz o outro, "comigo ou sem migo". :)

E mesmo que o resultado me seja desfavorável, eu já ganhei. As recordações, os sentimentos e as emoções que me proporcionaste são como tu: únicas, especiais e reveladoras de uma cumplicidade e de um amor, que ultrapassa os conceitos de espaço e tempo, se perde algures no caminho entre a origem e o destino e que resultam numa alquimia de almas e corações. Não descobrimos a Pedra Filosofal? Não transformamos qualquer metal em ouro? Não descobrimos o Elixir da Eterna Juventude? Não. Mas partilhamos Vida. E que mais há do que ficar na história de vida de alguém? Ainda por cima, numa página bonita, cheia de felizes coincidências, acasos e memórias!

Quem és tu?
Onde estás?

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Comentários

Não tenho moderação de comentários.
Não vejo motivos para isso.
Começa logo pelo facto de o blog não ser muito lido. O que não me aquece nem arrefece. Não escrevo para que me leiam. Escrevo para organizar as ideias e para expulsar demónios. Acresce que quem escreve o que lhe vai na alma e o coloca acessível na internet, se sujeita ao escrutínio de quem o venha a ler, portanto se sou sincero e directo no que escrevo e publico, devo dar o mesmo tratamento a quem para além de me ler, quer comentar o que escrevo. Outro motivo tem a ver com o facto de (ainda!) não ter recebido comentários desagradáveis. Mas tudo pode acontecer. Quem anda à chuva molha-se. Se acontecer, poderei pensar em activar a moderação de comentários. Mas para já, como está fica.

Ainda em relação aos comentários, tenho por hábito responder a todos eles. Acho que é o mínimo que posso fazer a quem se digna comentar o que escrevo. Não o faço por obrigação. Faço porque quero. E porque gosto.
Da mesma forma que tenho hábito ler o que quem me comenta escreve. Mesmo que nem sempre deixe comentários. Mesmo que nem sempre me identifique. Depende.

Eu sei. Sou um sapo estranho!

Surpresa do dia

Há pessoas que têm o dom de aparecer e desaparecer na nossa vida. Aparecem e desaparecem sem se fazer anunciar. Como se de meras sombras silenciosas se tratassem. Mas não o são, pois a adivinhar pelas marcas que deixam em nós, estão bem presentes e vivas, ainda que não de forma constante nem permanente. Ausentam-se por períodos mais ou menos longos e de quando em vez regressam.

Ainda assim, aquando de um reencontro acabamos por perceber, que guardamos delas mais do que inicialmente julgávamos. E se temos a felicidade de as reencontrar com tempo para permitirmos à memória que se vá libertando dos grilhões do esquecimento, e assim nos vá reavivando frases, imagens, cheiros, desenhos, sentimentos e momentos que sendo perfeitamente limitados no tempo, são eternos nas recordações, apercebemo-nos que, de facto, há gente que fica na história da gente.

Faz bem ouvir 'gosto de ti'. Faz bem ouvir 'gosto de ti' várias vezes. Faz bem ouvir. Aquece o coração. É igualmente gratificante dizer 'gosto de ti'.Ou 'tenho saudades tuas'. 'Não me esqueço de ti'. 'De cada vez que ouço a música ou o artista X, lembro-me de ti'.

Ainda que seja fruto do momento. Ainda que seja o resultado de uma carência pontual. Ainda que seja para massajar o ego. Ainda que seja o doce que está no congelador a que recorremos quando nos apetece um miminho extra. Ainda que seja só um flirt, um namorico e que nunca venha a ser um romance. Ou ainda mais: uma história de amor (e será que não o é?). Daquelas em que o amo-te não é apenas a conjugação pronominal reflexa do verbo amar no presente do indicativo na primeira pessoa do singular, mas antes uma afirmação de um gostar e de um querer maior, mais forte e melhor. Ainda que nunca venha a ser verdade, ainda que seja incapaz de o fazer porque não é o tempo certo, porque não é a situação indicada, porque as regras da sociedade não o permitem, porque a tua consciência te pesa, porque não pode ser a tua escolha, porque não te podes permitir sentir e agir em conformidade. Ainda que seja tudo isto ou que seja apenas nada.

Ainda assim, ter-te como companhia soube-me muito bem. Ontem como hoje.
E eu estou cá sempre (que puder e que queiras!)

domingo, 2 de outubro de 2011

sábado, 1 de outubro de 2011

Sábado

Hoje lembrei-me de como eram os sábados da minha infância. Levantar cedo. Ir ao mercado com os meus pais. O cheiro do peixe e das flores estão tão presente que o sinto ainda no ar. Depois, voltar para casa e mudar a roupa da cama, limpar o quarto que dividia com o meu irmão e pôr a mesa ou ajudar o meu pai a grelhar o peixe para o almoço. Ver televisão, almoçar e depois de almoço fazer nada! A meio da tarde ir andar de bicicleta. Ler um livro, dormir a sesta. Ao lanche comer crepes que a minha irmã mais velha fazia, barrados com doce. Ou polvilhados com açúcar e canela.

Depois quando entrei para os escuteiros os sábados passaram a ser diferentes. De manhã por casa (se não houvesse actividade no fim-de-semana ou trabalho na sede). Almoço e depois de almoço ir para a reunião. Por volta das 3 da tarde e sem hora para acabar. Foram quase 20 anos assim. E que bons anos! Grandes e gratas memórias. Recordo alguns episódios com muita emoção.

Mais recentemente os sábados eram dias de arrumações: mudar a roupa da cama, ir ao mercado, limpar a casa, pôr a máquina a lavar, estender e apanhar a roupa. Almoçar e acabar as limpezas. E por volta das cinco da tarde ir à pastelaria da esquina comprar bolos (E bons!!) e pão. Lanchar. E decidir o que se faria a seguir.

Dar um giro, passear, ver montras, jantar fora, ir a casa de alguém, ficar em casa e ver um filme...

Hoje é diferente. A situação é diferente. Conto só comigo. A casa não é minha. Não a hei-de sentir nunca como tal. Estou aqui de empréstimo, de passagem, por um tempo definido. De maneira que os sábados não sabem a nada. Tirando o facto de não ter de ir trabalhar, é um dia da semana que passa como os outros. Mas passa! E isso é bom. Porque no próximo fim-de-semana vou sair daqui e vou estar com amigos. Em Braga e no Porto. Não vou a casa dos meus pais, mas vou a casa de amigos, aquela família que temos a possibilidade de seleccionar. Até podem ser esquisitos na mesma, mas são os nossos amigos esquisitos. E a ordem das palavras não é arbitrária: os nossos amigos esquisitos. Mas antes disso, nossos amigos.