As árvores perdem as folhas, mas antes de se reduzirem à sua expressão mais simples, de cabides gigantes, prontas a receber os casacos todos do mundo, oferecem-nos um espectáculo de luz e cor inigualável. Perceber os cambiantes das cores douradas e avermelhadas das folhas; poder assistir, sentado num banco de jardim, às correrias que o vento faz por entre as folhas que se aguentam estoicamente agarradas aos ramos; assistir à sua queda lenta no chão; poder brincar como os garotos numa pilha de folhas, amontoadas para apanhar e espalhá-las novamente, dando pontapés e vê-las esvoaçar e imaginar o pânico de uma hipotética formiga que por lá andasse perdida. Que grande aventura teria para contar quando voltasse ao formigueiro!
Em Outubro, chega o frio. Vá, o calor diminui. Pelo menos de manhã e ao fim da tarde. Dá vontade de vestir roupa mais quente e usar casacos. E de me sentir quente por dentro, enquanto o frio me esbofeteia a cara e me faz chegar corado ao destino. Em Outubro chegam as castanhas e os magustos e a jeropiga. E relembram-se magustos de infância com idas ao pinhal apanhar caruma e uma velha telha de zinco que era colocada no chão do pátio para não sujar o chão, onde se dispunham caruma, castanhas e sal, em camadas generosas. No murinho que existia, ficávamos sentados a ver o lume a queimar, a caruma e a assar as castanhas. Era fim da tarde e quando o lume se consumia, esperava-se um bocadinho e com jeito ia-se à procura das castanhas. Quente e boas! Verdadeiramente quentes e boas! O ritual de lhes tirar a casca, de ficar com os dedos carregadinhos de fuligem e corrermos uns atrás dos outros para nos enfarruscarmos. Claro que no final havia correrias e gritos e brincadeiras. E uma barrigada de castanhas! Não me lembro se nesses dias jantávamos, mas é provável que sim!
Em Outubro começa a custar mais ir à casinha. Principalmente ao trono. Porque aquela parte de desapertar as calças faz com que haja demasiada ventilação nas pernas. E convenhamos, os tampos das sanitas são frios como o demónio. Já dei por mim a descer as calças o mínimo indispensável. Em vez de ser até aos tornozelos, ficam ali pelo joelho ou até um pouco mais acima. É isso e tomar duche de manhã. Custa! E depois de tomar, não apetece sair da casinha! É tudo ao contrário.
Em Outubro, conheci-te de outra forma. Tocavas-me ocasionalmente quando passavas por mim. Em Outubro, tocaste-me os dedos. Brincaste com eles. Permitiste que brincasse com os teus. Que os afagasse. Em Outubro abracei-te, com o pretexto do frio que dizias sentir. Larguei-te cedo. Demasiado cedo. Podia ter aproveitado mais e melhor. Ainda assim soube-me bem. Até os ombros deram conta!
Gosto de Outubro. E de ti.
Do que me lembro, mal se jantava no dia das castanhas porque ninguém aguentava mais. A minha mãe aquecia água na fogueira numa panela de ferro para lavarmos as mãos depois da grande barrigada... assim evitava mudanças de temperatura e, pensava ela, evitava as frieiras...
ResponderEliminarA minha infância manda cumprimentos felizes, por lhe avivares as memórias!
Kali:
ResponderEliminarÉ tão bom recordar momentos felizes.
Feliz fico eu por te saber por cá!
Beijinhos!