Não sei qual seria.
E não sei, porque há coisa de dois anos descobri, ou como está muito na moda dizer-se agora, realizei, que ensinar, dar aulas, leccionar, é o que gosto de fazer. Ao fim de 14 anos, posso dizer que faço o que gosto. E isto significa que me queixo muitas vezes do meu trabalho. E que tenho dias em que chego a casa com vontade de mandar tudo para as urtigas, porque os miúdos não estudam, não querem fazer as tarefas, se recusam a aprender, não vêem sentido na escola, batem-se apenas por dois motivos: por tudo e por nada.
E depois tenho outros dias, mais raros, em que o facto de conseguir conversar com um aluno que seja, que me vem pedir opinião para uma qualquer situação da sua vida, (como se eu percebesse muito da vida, para dar palpites sobre a vida dos outros!) me faz sentir mesmo bem e pensar que é esta a compensação que recebemos. Não é o ordenado (professor contratado há 14 anos, estou no mesmo índice de vencimento de há 14anos. Com uma licenciatura e mestrado concluidos antes de Bolonha, ganho 1100€ líquidos por mês); não é o reconhecimento social, que foi destruído por seis anos de governação socialista que arrasaram com a imagem dos professores ao criarem na opinião pública a ideia que os responsáveis por todo o mal do sistema educativo eramos nós; não é pelas regalias da profissão, porque no meu caso, 14 anos lectivos, 14 escolas diferentes, de Norte a Sul do País, com todos os custos que isso acarreta em transportes (que não públicos porque nem sempre há) alojamento (sem contrato nem recibo porque os senhorios não passam) e alimentação (desenvolvi o vicio de comer e não há quem mo tire!!!).
Se não fosse professor, não sei que profissão escolheria. Mas teria de ser alguma em que sentisse que, tal como sinto na escola, seria capaz de fazer a diferença. De mostrar a alguém que há outro caminho, outro trilho a percorrer, outras maneiras de ver, de sentir, de exprimir o que cá vai dentro e o que vida nos oferece!
Por vezes penso em fazer um outro curso superior, numa outra área de formação diferente. Mas nunca sei por onde hei-de seguir. O que escolher? O que eu gosto mesmo é de ser professor, de ensinar, de conversar com os miúdos e sentir que poderei ser responsável pela mudança na vida de algum deles.
Utópico? Com toda a certeza que sim!
Mas já dizia o poeta, "Pelo sonho é que vamos"!
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