sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Distâncias

Distâncias são medidas. Medidas daquilo que nos separa ou daquilo que nos une. Depende do ponto de vista, como aquela história do copo meio cheio ou meio vazio... Para mim, se está meio, está meio. Não consigo imaginar uma coisa cheia, se está pela metade, nem vazia, se tem conteúdo, ainda que não preencha totalmente. As distâncias são medidas em unidades diferentes dependendo do grau, do género e da relação que se estabelece entre a distância em si, e os sujeitos distantes. (pessoas, locais, objectos, sentimentos, recordações, desejos... querem que continue?...)

Podem medir-se distâncias em unidades de tempo e de espaço. E essas toda a gente sabe medir. Existem réguas e esquadros, transferidores, curvímetros, conta-quilómetros, satélites e lasers que nos dão distâncias lineares e áreas com grande precisão.

Mas que unidade usamos para medir a distância entre uma palavra proferida e as diferentes interpretações que essa palavra vai ter quando ouvida por pessoas diferentes,cada uma com o seu quadro de referência e estrutura mental diferentes? Como se mede a distância entre um batimento de coração e outro? Qual a unidade que se usa? E para medir a distância que vai entre um olhar apaixonado e um olhar de desejo? Um abraço de amizade e um abraço quente e húmido de amor, cheio de paixão e desejo? Como se mede a intensidade de um olhar? Qual o instrumento? E a unidade de medida?

E como se mede a saudade? Pelo intensidade do sofrimento causado pela ausência do outro? Ou pela quantidade de vezes que se recorda o cheiro do cabelo e do corpo, o som do riso e das gargalhadas, os abraços, o perfume e o cabelo, o peso do corpo, o calor ou o frio das mãos, a suavidade da pele, os gestos tantas vezes repetidos?

Como se mede a distância entre duas pessoas que se amam, que se querem e se desejam? Pelo tempo que passam juntas? Pelo tempo que querem passar juntas? Pela forma como aproveitam o tempo quando estão juntas? Pela forma como se disponibilizam um para o outro e se ajudam mutuamente? Pela atenção, carinho e cuidado que dedicam ao outro? Pela vontade que sentem de fazerem a distância real e física que existe entre eles, mais pequena e dessa forma estarem mais próximos, de serem um?

A distância é mais imaginada que real.
A distância, muitas vezes, não é mais do que um obstáculo que colocamos a nós mesmos quando nos sentimos incapazes de saltar os muros que erguemos ou que outros ergueram por nós. Muros como o embaraço, a vergonha, a timidez, as ideias feitas, a opinião dos outros, as convenções sociais, as regras da sociedade, a educação que recebemos, a nossa herança cultural e moral judaico-cristã que nos prende, nos corta os movimentos, as ideias, os desejos e as vontades e nos leva a pensar em coisas tão sem sentido como culpas e medos...

A distância tem os limites que nos colocamos. Se somos livres, não há barreiras, não há limites. Porque a nossa liberdade é só isso. Liberdade. Sem limites barreiras nem prisões.

Sem comentários:

Enviar um comentário