terça-feira, 22 de agosto de 2017

Cenas

Nestes dias conturbados, que muito me têm torrada a paciência (até porque tem estado um calor de torrar passarinhos) :'-/ tem havido um conjunto de situações que me deixam sem saber que concluir.

E nem vou dissertar sobre os incêndios, já que há tanta gente entendida e iluminada a discorrer sobre o assunto. Também não me vou debruçar sobre o início da época futebolística porque há bola a mais neste país (curiosamente, há muita falta de bolas em muita gente que ocupa lugares e cargos com responsabilidade. Ironias do destino! Atentados terroristas? Nada disso.

O sapo anda à procura de um novo charco. E sim, estávamos a contar alugar. Só que não. Porquê? Porque alugar qualquer coisa mais ou menos decente (leia-se, sem humidade, com quartos onde cabe mais do que a cama, e uma casa de banho que não tenha sido desenhada pelo Tomás Taveira antes de aviar um pacote ou dois ou que não tenha saído directamente da década de 30 do século passado, com uma cozinha equipada com o básico (forno, placa e exaustor e esquentador) com chão de madeira nos quartos) a um preço que possamos pagar é missão impossível.

Resumindo: pessoas com poucos recursos não conseguem alugar casa. Solução: comprar! Como?! Pois! Eu também fiquei de queixo caído quando depois de ter feito algumas simulações percebi que uma prestação a um banco fica por cerca de metade do que alguns senhorios pedem de renda. Casos concretos? Apartamento t2 na malha urbana fica por cerca de €450 mensais, se se conseguir encontrar!). Comprar apartamento usado na mesma zona dá uma prestação inferior a €300 mensais.

Pois! Continua tudo na mesma! Quem não tem dinheiro, nem recursos financeiros para pagar uma renda mensal, devido ao valor exorbitante que é pedido para arrendamento, é atirado para as garras da banca, esse conjunto de benfeitores, que nos explora durante trinta ou quarenta anos e que nos permite aceder ao crédito em troca de lhes vendermos a alma.

A mesma banca que tivemos de resgatar (e nem nos perguntaram se queríamos salvar esses agiotas!) impondo-nos, por conta desses resgates, medidas duras de corte de vencimentos, subsídios e prestações sociais, pensões e direitos adquiridos há muito!

O sapo é um sapo e portanto não lê muito (até porque com as membranas interdigitais tão desenvolvidas é difícil virar as páginas dos livros) mas, tenho ideia de ter ouvido dizer algures que a habitação é um direito consagrado, naquela coisa que muita gente não conhece e não cumpre, e que dá pelo nome Constituição da República Portuguesa, também chamada de Lei Fundamental.

Não deveria haver legislação que garanta o acesso a habitação condigna a todos e que proteja as famílias? Porque motivo não se regula o arrendamento? O mercado, dirão, trata de se regular. Exacto. O mercado que sobe e desce ratings porque sim e que porque uma galinha espirra na China nos põe a comer mais carne de porco e vaca. Esse mercado.

Como não podemos viver neste charco por muito mais tempo, e sem outra solução, andamos a ver charcos atrás de charcos, sem que algum deles nos encha as medidas e nos faça ter vontade de mudar de armas e bagagens para lá...

Ah! E a fazer mais contas que equipa de futebol em "lugar de aflitos" a ver se ainda consegue evitar a descida de divisão.