sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Terapia

Os meus fins-de-semana são a minha terapia. As viagens são longas, cansativas e dolorosas (as costas que o digam!). A despesa é enorme e o desgaste do carro e condutor também. Mas eu preciso de sair daquele lugar. Preciso de sentir que posso andar na rua à vontade sem ter receio de ser indultado por algum aluno mais parvo (que os há!) como me tem acontecido na escola este ano. Preciso de sentir que posso estar à vontade com os meus amigos, com a lobita, que podemos estar deitados até tarde se nos apetecer. Ou fazer o que nos apetece, só porque sim. Sem horários nem tarefas de carácter obrigatório.
Preciso do fim-de-semana para ganhar fôlego para mais 3 dias e meio no buraco. O charco do ano passado deu lugar a um buraco. O que é muito menos interessante!

A minha doença resolveu dar um ar da sua graça. Enviou-me um sinal de que tenho de mudar de atitude. De rumo. Ou de vida! Este fim-de-semana torna-se ainda mais importante também por isso. Para me dar hipótese de desligar. De tomar melhor conta de mim.

A próxima semana vai ser terrível em termos de trabalho, mesmo tendo um feriado pelo meio. Reuniões intercalares até bem tarde. Reuniões onde se fala muito e se diz pouco. Testes para corrigir. Actas para fazer e entregar. Mas por agora, é fim-de-semana e quero, preciso e tenho de descansar.

Bom fim-de-semana!

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Dias difíceis

Por cá tem havido.
Muitos. Noites mal dormidas. Pensamentos recorrentes sobre desistir. Vontade de chegar aos serviços administrativos e denunciar o contrato. Desaparecer daqui. Deixar o ensino.

Eu percebo que o ar ande pouco recomendável cá  no nosso país. Entendo que esse clima desfavorável, de desconfiança e de falta de esperança chegue aos alunos e que com mais ou menos consciência isso se reflicta na sua postura e empenho. Admito que o tempo que vivemos é difícil. Não é agradável ver todos os dias nas notícias que vão cortar mais isto e aquilo e mais além. E que pretendem reduzir os poucos benefícios que ainda vamos tendo.

Também dou de barato que a escola e o ensino são pouco apelativos para quem tem telemóvel, smartphone, duzentos canais, DVD, blueray, iPad, iPod, iPhone, ai-que-não-sei-que-outros-gadgets-mais-posso-comprar, e toda a sorte de parafernálias eletrónicas que se queiram lembrar.

O que não consigo aceitar é a falta de educação, as faltas de respeito e os comportamentos insolentes e mal-educados.

Sim, eu sei que as coisas têm a importância que lhes damos. Acontece que eu levo o meu trabalho a sério. Resultado? Estou a sentir-me incapaz de lidar com estes garotos.

Há solução? Claro! Mentalizar-me que já passei por pior. Que dentro em breve posso estar a embarcar numa nova aventura. Se não foi um casamento e um divórcio, o estar prestes a ser "depenado" para me livrar de um peso-morto que arrasto há mais de um ano, o ter uma doença crónica e ter estado internado umas quantas vezes, o andar pelo país há quinze anos com a casa às costas, longe de família e amigos; se não foi nada disto que me matou, não vão ser estes garotos que me vão quebrar. Não sei como, mas hei-de arranjar forma de resistir.

Isto não é uma guerra. Mas parece!


terça-feira, 23 de outubro de 2012

Because I can't find the off switch!


Coisas boas acontecem

O diabo não está sempre atrás da porta.

Já se vê uma luz ao fundo do túnel.

As coisas começam-se a encaminhar.

Depois de avanços e recuos, pode ser que até ao final do ano o sapo se veja liberto de uma ligação que o anda a prender há demasiado tempo e que é importante para que possa cortar amarras, e torne mais fácil escalar "cada vez mais altos montes".

Espero mesmo que seja desta. MESMO.

2 semanas

Ao cabo de duas semanas, volto.

Volto mais triste. Menos crente na capacidade de recuperar ânimo neste país cada dia mais pobre, mais triste e mais resignado.
Volto com contactos para tentar, a muito curto prazo, dar o salto. Ir embora. Não estou a fugir de nada. Estou apenas a procurar melhor. É legítimo que o faça. Enquanto ainda tenho algumas hipóteses de o conseguir. Quando tenho alguém que está disposta a arriscar fazê-lo comigo, ao meu lado. Alguém que me faz todo o sentido e com quem quero ter a minha família.

Estes dias o ânimo é oscilante. Ora melhor, ora pior. Parece que me deixo animar e desanimar por aquilo que me é exterior. Tenho por vezes a sensação que estes dias de instabilidade atmosférica se fazem sentir em instabilidade de humores. Porém, se procurar bem, não tenho verdadeiro motivo para isso. Sei que o meu estado de espírito deve depender, em primeiro lugar, de mim. Que as acções e as palavras dos outros devem ser analisadas na justa medida da importância que esses tais outros têm para mim. Mas ainda assim, tenho alturas em que me sinto tão frágil que a dor que algumas palavras têm, chega a ter manifestações físicas. E isso é algo que não quero para mim. Que não quero que interfira no meu estado de espírito, no humor.

A vida é mais do que isto. Não é isto que quero para mim. Gosto de dar aulas e necessito de trabalhar, mas também gosto de ser respeitado quando o faço. Não é mariquice. É um direito que me assiste. Não tenho de suportar tudo. Não quero ser professor a qualquer  preço, nem a todo o custo. A minha profissão não me prende. Deve libertar-me e dar algum prazer. Não isto! Esta quase tortura e coacção psicológica a que me tentam submeter. no meu local de trabalho.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Do insulto

Nunca tiveram daqueles dias de caca em que só apetece chamar nomes e insultar do pior todos quantos vos desagradam? Eu já. E hoje é outro desses dias.

Dizer asneiras e palavrões pode ser libertador.
E como me preciso de libertar!

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Hoje

Começo por dizer que se estão à espera de algo extraordinário, estão enganados. Melhor passarem para o blog seguinte na vossa lista de favoritos.

Desde que o ano lectivo começou que estou desejando que acabe. Já falei disto aqui até à exaustão. Podia continuar a escrever postas sobre as condições de trabalho, a distância da lobita, da família e dos amigos, do preço do gasóleo, do custo das portagens e das horas que passo em viagem entre casa e este lugar, dos alunos e da sua falta de capacidade de perceber a importância de obter conhecimentos e escolarização. Vou-me limitar à primeira frase deste parágrafo. Desde que o ano lectivo começou que estou desejando que acabe. De tal maneira que tenho um calendário autocolante colado na contracapa do caderno de anotações que levo para as aulas e que tenho, diligentemente riscado cada dia que passa, assim que chego a casa depois das aulas.

A vontade de estar aqui, é tanta que o meu cérebro está programado para funcionar em períodos de três dias e meio. Começa na segunda à noite quando chega ao desterro e desliga na sexta-feira depois de terminar as aulas por volta da hora do almoço. E aí entra novamente em ciclo de três dias e meio, mas agora de descanso e na maioria das vezes, longe daqui. O que só pode ser bom, claro!

Já estive em muitos sítios, conheço um pouco do país e não me lembro de ter estado a trabalhar num sítio tão pequeno, com tão pouca oferta de comércio e serviços, de actividades de lazer. Meia dúzia de cafés, um banco, três minimercados e preços exorbitantes.

Socorro!

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Mais um fim-de-semana

Podia ter acabado melhor. Podia ter começado melhor a semana. Podias estar aqui comigo. Mas não acabou melhor o fim-de-semana, não começou melhor a semana, não estás aqui comigo. Paciência. Para a semana tenta-se outra vez.

É bom termos a possibilidade de errar de novo. De errar melhor. De aprender mais qualquer coisa. De estar com pessoas de quem se gosta. De rever amigos deste tempo que conhecemos noutros tempos. De partilhar ideias, argumentos, pontos de vista, sem receios de sermos julgados.

Muito tempo de viagem. Demasiado tempo de viagem. Muito tempo contigo. E ainda assim, sinto como se fosse muito pouco tempo contigo. Coisa relativa o tempo, não?

Pode ser bom, pode ser mau. Mais tarde se verá.

É isto. Sem tirar nem pôr. Avaliar as coisas à partida resulta, não poucas vezes, num exercício enganador. Porque nem tudo o que parece é, porque as aparências iludem, porque o primeiro milho é para os pardais. E quem diz coisas, diz pessoas. E situações.

 No entanto, não me parece que possamos viver desta maneira, sem sermos capazes de decidir se o que nos vai acontecendo é bom ou menos bom. Recuso o fatalismo e o determinismo enquanto formas de pensamento ou filosofias. Também não acredito que estamos pré-destinados a algo. Algures entre estes extremos estamos nós. Julgo eu, provavelmente de forma errada.

São muito poucas as certezas que tenho. Muitas mais as dúvidas. Do que mais certo temos, é a pessoa que nós somos. Aquilo que somos, que construímos e que projetamos para nós. Dai que seja urgente que nos empenhemos a fundo em nós. Isto não tem nada a ver com presunção, ideias de superioridade ou de uma visão egoísta ou centrada em mim ou qualquer tipo de ideia dessas. Tem a ver com a necessidade que sinto de segurança. E de segurança na única parte da minha vida que posso controlar: eu mesmo (e mesmo assim... :/ ).

A resistência às adversidades, à falta de "sorte", ao acaso ou ao destino, será tanto maior quanto cada um de nós se conheça bem. E tenha as suas ferramentas e recursos perfeitamente identificados para agir face à mudança. A acomodação ao dia-a-dia mata os sonhos que trazemos dentro. A monotonia do casa-trabalho-casa; a história gasta do nascer-crescer-trabalhar-morrer será talvez a forma mais rápida para levar uma vida infeliz. Se não se temperar tudo isto com pessoas e com actividades de que se goste, verdadeiramente!, de fazer o peso das rotinas é esmagador.

O poço pode ser fundo. Mas se olharmos para cima, vemos luz. E às vezes, na maior escuridão uma só luzinha chega para nos dar força e alento.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Este sou eu

Este sou eu. Com sono nos olhos, mas com vontade de escrever. Cansado de mais de quatro horas de viagem depois de sete horas de trabalho com garotos muito pouco interessados no que tenho para lhes dizer e ensinar.

Este sou eu, aqui deitado na cama no meu quarto em casa dos meus pais, já que a minha casa está para venda e eu não a posso comprar porque não ganho o suficiente para isso e porque não tenho pouso fixo. Afinal, o meu local de trabalho é Portugal. E isso é incompatível com residência fixa.

Este sou eu. Com dores de garganta. Com zumbido nos ouvidos e peso nos olhos. A sentir-me meio doente quando não me dá jeito nenhum adoecer agora. (nunca dá, eu sei!)

Este sou eu. Aqui a escrever a pensar em ti que estás, muito provavelmente deitada a dormir para que o tempo passe mais depressa e rapidamente seja amanhã. É o que eu devia estar a fazer mas, por mais cansado que esteja, aos dedos apetece-lhes bailar sobre o teclado polido de tanto uso.

Este sou eu. Confuso, baralhado, com tantas ideias a surgirem que nem sei por onde começar. Preocupado com um monte de coisas que infelizmente não dependem de mim para se resolverem. E com vontade de as resolver. Ideias de partidas e chegadas. De recomeços e de prosseguir o caminho em frente. De continuar a construir-me, mas agora melhor. Agora com algo menos áspero. Para que não me magoe tanto quando precisar de me abraçar e de te dar colo.

Este sou eu. Nem bom nem mau. Nem sim, nem não. Nem tudo, nem nada. Um resto do que fui, a semente do que poderei ser. Só existe o momento. Só existe o agora. O passado já acabou e o futuro ainda há-de vir.

Este sou eu a tentar lembrar-me para viver o presente: a oferta que a vida nos dá a cada momento. Momento único e irrepetível. Como eu.