segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Do ensino

A cada dia que passa, vou-me perguntando se vale a pena continuar a insistir nisto. Se vale a pena. Se tiro proveito de me levantar cedo, estar longe de casa, fazer km em barda, ter alunos que não se respeitam, que não me respeitam, que não sabem, não querem saber e não vêem sentido em estar horas (demasiadas!) dentro da escola.

Já aqui o disse e repito: os miúdos gostam da escola. Não gostam é daquelas coisas limitadas por toques de campaínha que se chamam "aulas". Isso é que aborrece. Se a escola não tivesse aulas era altamente! Se! Mas a escola tem aulas. TEMOS PENA!

Desaparecer. Deixar o ensino. Esquecer a escola. Perder a memória de todas as vezes que me insultaram, e à inteligência. Comentários, bocas, conversas paralelas, insultos, Uma falta de saber-estar que chega a ser constrangedor estar com criaturas destas na mesma sala. Estou cansado disto.

Estou cansado de ter ficar contente porque fiquei colocado.
Estou cansado de ter ficar contente porque fiquei colocado e com horário completo.
Estou cansado de ter ficar contente porque fiquei colocado e com horário completo a quase 300km de casa.
Estou cansado de ter ficar contente porque fiquei colocado e com horário completo a quase 300km de casa, fazer diariamente 180km, quatro vezes por semana.
Estou cansado de ter ficar contente porque fiquei colocado e com horário completo a quase 300km de casa, fazer diariamente 180km, quatro vezes por semana e ver a família e amigos uma vez a cada quinze dias (com sorte).

Estou cansado desta ditadura da felicidade e do contentamento, que nos obriga a ficar felizes e contentes, a sorrir e a agradecer de mãos unidas ao Crato o privilégio de ter trabalho. Porque ser professor em Portugal, hoje em dia deve ser um privilégio. Principalmente depois de 16 anos a trabalhar. 





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