sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Parte X

Subir a serra permite-lhe arejar as ideias. Baixa o vidro, estica o braço pela janela e sente o vento entre os dedos. Faz uma concha com a mão e, devido à velocidade, sente o impacto do ar contra a palma da mão, como se deixasse de estar no estado gasoso e fosse um sólido, maleável. Estica os dedos, sente o vento entre eles. Vai agora mais devagar, que isto de conduzir só com uma mão no volante é um pouco mais arriscado. O suave trotar do motor, a luz do sol a bater no pára-brisas e o cheiro da floresta a entrar-lhe pelas narinas... Há momentos em que a vida parece perfeita. E de repente uma curva com areia na parte exterior, feita mais por fora, a traseira a atravessar-se à frente do carro, como se a estrada de montanha se tornasse na dita. Mas russa. E o fizesse falar todas as línguas e dialectos do mundo para tentar acalmar aquele casulo de aço e ferro roncador, com pés de borracha, para tornar evitável o inevitável despiste e subsequente estilhaçar de vidros, retorcer de chapas e estalar de tinta.

Retomado o controlo, abrandou. Encostou ainda tremendo e deixou que o travassem. Que raio estavas a fazer? Não chega ainda?

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