quinta-feira, 6 de junho de 2013

Do unto

O unto, também chamada de graxa, é a actividade praticada por um conjunto de pessoas a quem o Miguel Esteves Cardoso chamou, há muitos anos num artigo escrito no extinto Independente,  os cu-lambistas. Os cu-lambistas seriam assim uma espécie de lambe-botas, mas num nível mais avançado, com mais requinte. Quando era estudante chamavamos-lhes apenas graxistas.

Porque é que me lembrei disto? Porque tenho alguns alunos que durante o ano pouco fizeram de estudo, de trabalho, em suma, de alunos aplicados! que desde há umas semanas a esta parte, despudoramente me rondam cheios de simpatia e de sorriso afivelado na cara, com o único propósito de me darem graxa. Não gosto de me sentir pressionado. Não gosto de me sentir condicionado, muito menos por quem durante uma parte do ano me fez a vida um pouco mais difícil e que agora que o ano se aproxima do seu fim, tirar vantagens ilegítimas de algo que não fez e, por conseguinte, não merece. Porém, esta atitude até é compreensível por parte dos alunos. São miúdos, estão a tentar safar-se utilizando as poucas estratégias que consideram eficazes.

Assistir e ter de lidar com pressões de colegas que são directores de turma é bem pior. E no entanto, hoje mesmo, por mais de uma vez me questionaram relativamente aos níveis que iria atribuir a determinados alunos. Depois da minha resposta, os comentários, as expressões faciais, os olhares eram de claro desagrado e quando acrescentava que se quisessem podiam colocar a nota à votação do Conselho de Turma mas que faria questão de deixar em acta o meu desacordo isso valeu-me costas voltadas, ser apelidade de sapo, o cruel e outros mimos.

Lamento. Eu sei que são miúdos. Eu sei que têm contextos familiares difíceis. Mas também sei, e os próprios alunos também sabem, que fizeram muito pouco para obter aproveitamento. Que se empenharam pouco. Que brincaram demasiado. Que o ano lectivo só termina em Junho e houve casos de alunos que só começaram a fazer alguma coisa em Abril e outros que nunca deixaram de estar de férias, desde o Verão passado. Não é nenhum drama. Para o ano há novamente escola (se o Crato não acabar com isto tudo entretanto).

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