terça-feira, 13 de novembro de 2012

Greve

Amanhã é dia de Greve Geral.

Normalmente não faço greve. Normalmente vou trabalhar todos os dias, mesmo os de greve porque não acredito que as greves consigam mudar seja o que for na cabeça daqueles a quem a greve se destina: os governantes.

A minha greve é a greve de zelo. Aquela em que toda a gente vai para o seu local de trabalho para não fazer nada. O motorista do autocarro conduz o autocarro mas não cobra bilhetes, o polícia faz operações stop, mas não multa ninguém, o professor dá aulas mas não avalia os alunos. Penso que já perceberam a ideia.

A minha greve é a greve por tempo indeterminado. Aquela greve em que dure o tempo que for preciso, não há escola para ninguém até nos tratarem como pessoas, como seres humanos e nos respeitem. Como posso esperar que um miúdo me respeite se o meu país, os sucessivos Governos que me contratam todos os anos (e vão quinze!) me despede todos os anos (e vão igualmente quinze!) e nem se digna pagar a compensação de caducidade de contrato a que tenho direito por Lei? Como posso esperar ser considerado pela sociedade se essa mesma sociedade de algum tempo a esta parte vê como principal defeito do sistema educativo o professor?

Defendo uma greve por tempo indeterminado. Claro que para isso, os sindicatos de professores, que se dizem defensores dos direitos dos seus sócios, deveriam ter um fundo para ajudar a suportar o custo da greve dos professores que aderissem. Afinal, um por cento do vencimento todos os meses para os sindicatos, deveria servir para isso.

Amanhã faço greve. Vou perder um dia de salário. Muitos milhares de pessoas vão perder um dia de salário. Quero acreditar que o vão fazer para que possam continuar a ter salário nos muitos outros dias de trabalho que terão depois desta greve.

O rumo tem de mudar. Não podemos continuar a empobrecer desta forma. Não podemos continuar a trabalhar nestas condições. Há professores a menos. Há respostas educativas insuficientes. Há incapacidade das escolas resolverem todos os seus problemas. Há falta de participação dos pais e dos próprios alunos na escola. A escola tem de se centrar no seu papel essencial: ensinar. Eu sou professor, não sou psicólogo, nem assistente social, nem vigilante de crianças, nem bibliotecário, nem burocrata, nem profissional de saúde, nem pai, nem encarregado de educação, nem terapeuta ocupacional.

Pagam-me para ensinar. Para ser um facilitador de conhecimentos. Para espicaçar mentes, semear dúvidas, levantar questões, provocar pensamentos, gerar incerteza.

Amanhã faço greve, porque entre outros motivos, não tenho conseguido ter espaço para fazer nada disto. Porque em Janeiro me vão tirar ao vencimento cerca de 100 euros por mês. E eu estou a 320km de casa. Recebo pelo meu trabalho €1130 mensais. Não tenho ajudas de custo para alojamento (que pago mensalmente e sem recibo para IRS). Também não tenho ajudas de custo para deslocações. Não recebo €0,32 por quilómetro como os nossos deputados e o meu carro (com mais de cinco anos e que foi pago por mim) fez desde agosto de 2011 quarenta e seis mil quilómetros. A este ritmo, não durará mais dois anos.

Amanhã faço greve. E tu?

2 comentários:

  1. Eu não tenho transportes para ir para a faculdade!

    ResponderEliminar
  2. Compreendo que isso te possa causar alguns transtornos. Mas não creio que seja necessariamente mau! :)

    ResponderEliminar