sábado, 14 de janeiro de 2012

Criar espaços

Os acontecimentos aleatórios que vão surgindo no nosso dia-a-dia são em muitos casos os responsáveis pela forma como nos sentimos perante os outros e perante nós mesmos.

Parece que vamos na faixa da esquerda da autoestrada, que começamos a ultrapassar a fila de trânsito mais lento que circula na direita e quando damos conta, já não temos tempo para nos encostarmos novamente à direita para a apanha a saída que haviamos planeado.

Quando é que perdemos a noção do que queremos para nós? Em que momento é que nos deixamos ultrapassar pelos acontecimentos? Qual a nossa responsabilidade?

Vou dando conta de tanta gente infeliz, preocupada com coisas menores, que se agarra ao que de menos bom tem na vida para justificar a inacção, o marasmo, o "deixa-andar" e que usa esses acontecimentos menos positivos como armas para junto dos outros granjear alguma compaixão ou simpatia. Que triste vida a de quem precisa de se sentir mal para que os outros reparem em si. Que pobreza de espírito!

Por vezes, para nos sentirmos um pouco melhor, um pouco mais leves, necessitamos de fazer uma limpeza ao que connosco carregamos. Da mesma forma que na mudança de estação trocamos as roupas no armário, deixando mais à mão aquelas que estamos a contar usar mais, também deveríamos fazer uma arrumação no nosso armário emocional, deixando à mão o que mais necessitamos e fazendo uma escolha daquilo que até pode ter sido novo, lustroso e brilhante, agradavelmente perfumado, mas que agora mais não é que um pedaço de tecido um pouco gasto e amarfanhado que guardamos no fundo da gaveta ou do armário e que nos traz lembranças: umas boas, outras nem tanto. Guardemos as boas lembranças, e deitemos fora as outras. E as coisas que nos fazem recordar.

Precisamos de criar espaços na nossa vida para podermos receber novas coisas. Melhores coisas. Se nunca limparmos o armário nunca vamos ter espaço para colocar novas peças de roupa, e quando as vemos nas lojas e nas montras, entramos e experimentamos, até nos ficam bem, é que nos lembramos: onde vou guardar? Não tenho onde pôr! E acabamos por deixar de fora algo que nos ficava tão bem por falta de espaço. Vamos limpar os armários, arejar os cantos mais bafientos do espírito. Deixar a luz entrar para iluminar cada cantinho, cada volta mais torcida da nossa alma, como quando se põe a roupa a corar ao sol.

Precisamos de aligeirar a carga que transportamos aos ombros e no peito para podermos respirar melhor. Para podermos caminhar mais direitos e menos curvados. Devemos isso a nós mesmos! A vida não tem de ser vivida com resignação.

A vida é uma doença crónica de prognóstico reservado.
Melhor vivê-la já, não vos parece?

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