quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Estado de sítio

Ordenar ideias, clarificar, perceber, entender-me no caos do que nos está a acontecer enquanto indivíduos e num sentido mais colectivo, enquanto sociedade. Podemos não ter noção ou preferir enterrar a cabeça na aria, mas pelos sinais que temos recebido nos últimos anos quer-me parecer que estamos perante o início do fim do mundo moderno tal como o conhecemos. As alterações estão a suceder-se a um ritmo tal que, ou apanhamos o comboio da mudança ou somos trucidados por ele.

Reparem na forma como os cidadãos estão a reclamar para si um papel mais interventivo na definição das políticas sociais e na actuação política. E não digo isto pelo facto de se andar a cantar muito pelo país o Grândola, vila morena do Zeca Afonso.
Associações, movimentos, manifestações, intervenções. Na rua, nos meios de comunicação social, nos postos de trabalho, nas redes sociais, nas escolas e universidades, nos cafés, bares e esplanadas. Em todo o lado se fala disto, se conversa, se procura chegar a conclusões, medidas, opiniões. A mudança está aí, é preciso permitir que ela chegue e dê frutos. É preciso cuidar que esta mudança seja, tanto quanto possível, pacífica. É preciso que os políticos vejam a situação com os olhos do povo. Do povo desempregado, dos jovens que nem desempregados podem ser, porque nunca ocuparam um posto de trabalho, dos reformados com pensões de miséria, e de outros que tendo uma pensão razoável têm vindo a ser castigados por erros que não cometeram.

É preciso entender isto: Não foi o povo que resolveu construir três autoestradas entre Lisboa e Porto. Não foi o povo que decidiu construir um aeroporto em Beja, e que não tem aviões a aterrar na pista. Não foi o povo que mandou encerrar as linhas de comboio que cruzavam o país e que localmente eram de importância vital para o desenvolvimento de áreas afastadas dos principais centros urbanos. Não foi o povo que resolveu privatizar o BPN para salvar o dinheiro que os políticos lá tinham investido. Não foi o povo que resolveu construir escolas em todo o lado, sem terem sido feitos os respectivos estudos de viabilidade futura que garantissem a existência de população em idade escolar. Não foi o povo que decidiu a construção de um TGV que foi suspenso quando este governo entrou em funções e que poderá obrigar o Estado (os contribuintes) a pagar indemnizações ao consórcio vencedor do concurso público. Não foi o povo que decidiu construir centros comerciais megalómanos em quase todas as cidades do país que acabaram com o comércio tradicional e que estão creio eu, num número muito significativo, condenados ao encerramento. É preciso mudar de lógica de funcionamento da sociedade.
  
Embora esta onda ainda não tenha atingido a esmagadora maioria dos nossos políticos (se é que tocou algum) os factos estão aí para quem os quiser ver: estamos, a cada dia que passa a viver pior. E não falo apenas dos cortes nos salários ou dos subsídios, nem dos aumentos brutais de todos os impostos possíveis e  imaginários de que temos sido testemunhas e acima de tudo, vítimas. Começa a ser incomportável ir a uma Urgência hospitalar, à farmácia aviar uma receita, ao supermercado às compras, a um posto de combustível atestar o depósito do carro. Mas a parte mais trágica disto tudo é que as alternativas não existem. Sei o que poderão estar a pensar: que para cada uma destas situações há soluções. Que podemos ter mais cuidado com a nossa saúde que não ficaremos doentes com tanta frequência (e não creio que alguém que seja razoavelmente inteligente, queira ficar doente); que podemos comprar produtos alimentares de marca branca, que podemos reduzir o consumo de carnes vermelhas (as mais dispendiosas); que existem transportes públicos que nos levam para quase todo o lado. Há um fundo de verdade em tudo isto, mas isto não é uma verdade absoluta. Ontem dediquei-me a procurar preços de transportes públicos daqui onde me encontro para o local onde vivo. E o comboio, por exemplo, fica mais caro do que o transporte privado.

Existe um mundo melhor. E ao contrário do que diz uma anedota que afirma "Existe um mundo melhor mas é caríssimo!", eu creio que existe um mundo melhor e muito mais barato, acessível e com muito menos impacto sobre o ambiente e o planeta do que este modelo de sociedade capitalista que explora o Homem e os recursos da Terra com o único objectivo do lucro. Está aí para quem o quiser ver. Para quem quiser experimentar. Desde que estejamos dispostos a abdicar de algumas coisas que alguém nos disse serem indispensáveis para sermos pessoas completas e felizes.

Menos pode mesmo ser mais! Experimentem!

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