sexta-feira, 28 de outubro de 2011

No meio da ponte

"No meio da ponte, parada, a olhar o vazio sob mim. A sentir o vento a rodopiar à minha volta. A olhar o rio que corre, aos saltos por entre as pedras e as nuvens que deslizam no céu. De um lado da ponte, o que já conheço. E de que gosto. Do outro lado da ponte o que ainda não conheço bem, mas de que aprendi a gostar. Cá dentro paira a dúvida sobre o que sou, sobre o que quero e sobre o que sinto e a profundidade do que sinto. Por mim, e pelos caminhos que me esperam nos extremos da ponte.

Vacilo entre o conhecido, familiar, confortável e o menos conhecido, que me atrai e aparentemente me parece cativar a cada toque, gesto e olhar.

Sinto crescer em mim, a dúvida entre o que acho que quero, o  que acho que sinto, e aquilo que os outros me dizem querer e de mim esperam. Sinto-me pequena. Demasiado pequena para ser obrigada a fazer uma escolha, em que para onde quer que olhe, me sinto a perder. Porém, todas as escolhas implicam perder algo. Claro que posso sempre tentar ver o que ganho com a escolha. E certamente que terei algo a ganhar. Muito até. No imediato. E provavelmente no futuro. Mas viver por conta de algo que pode vir a acontecer, impede-nos muitas vezes de apreciar o que nos é oferecido no presente. Muitas vezes temos o que precisamos e não o que desejamos.

Volto a mirar cada um dos extremos da ponte, a ver se descubro um sinal, uma pista, qualquer pequeno sobressalto do coração que me indique o caminho a seguir. Mas o coração está cansado. E a cabeça cortou relações com ele. Baralha-lhe o raciocínio. Fecho os olhos e apelo ao coração para que abra os dele: afinal, só vemos bem com os olhos do coração. E eu não sou excepção. Preciso de deixar o meu coração ter o tempo e o espaço suficiente para se poder libertar de tudo o que o oprime e deixá-lo falar. Sei que ele se vai queixar que durante muito tempo não lhe dei ouvidos. Que fingi que não o ouvia. Enterrei a sua voz nas coisas do dia-a-dia. No trabalho, na família, nos amigos, nos outros, em coisas que pensei que me preenchiam e faziam feliz, e esqueci-me de que tudo isso me afastou da pessoa mais importante que há no mundo: de mim mesma.

E agora, no meio da ponte, pondero as minhas opções: ir pelo caminho que já conheço, e que me trouxe onde estou; ir pelo caminho novo e esperar (e também fazer!!) para que corra bem ou sentar-me no meio da ponte, esperar que me cresçam as asas e ousar saltar para fora de mim. Sim. Para fora de mim. Rumo não sei bem a quê. Ao desconhecido, certamente. E quem sabe não surge algo novo em mim? Um novo eu?
É tempo de enxotar a nuvem negra que (acho!) me persegue. Afinal, uma nuvem não é mais do que vapor de água. Vou fazê-la chover. Com a chuva que dela cai, lavo a alma.

Vai que decido saltar, mesmo sem asas? Vou de alma limpa, de encontro ao Criador. Porque não sei se virá alguém ao meu encontro, a meio da ponte para me impedir de saltar sem asas e sem rede."

Eu vou.

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