segunda-feira, 31 de outubro de 2011

No meio da ponte (capítulo 4)

"Sinto-me perdida. Cada vez mais perdida. E no entanto, sei onde estou, mas não faço a mais pequena ideia de para onde quero ir. Apetece-me desligar. E ao mesmo tempo apetece-me abraçar o caminho. O desespero que sinto é tão fundo, que quase me paralisa e impede de pensar.

A escolha é simples: ou um ou outro. Já sei de antemão que escolha eu o que escolher, terei sempre algo a ganhar e outro tanto a perder. Sei que serei feliz, a espaços, num e noutro. Mas sei que serei julgada. Por todos os que deveriam gostar de mim. Que justificações dar aos outros? Porque raio acho que tenho de me justificar perante os outros? Não somos nós que fazemos o nosso próprio caminho? Então que me dêem liberdade para escolher. E para assumir as consequências das minhas escolhas. Quem gosta de mim, quer ver-me feliz.

Porém há outra questão: que justificações darei a mim mesma? Como poderei justificar perante mim mesma, o abandono de um caminho e a escolha de um outro? Que situação estranha, esta em que me encontro! Nunca pensei que me pudesse acontecer. Não a mim. Eu tinha tudo planeado! Sempre tive certezas e valores e ideias bem definidas sobre o que podia e não podia ser. O que me podia e não podia permitir. E de repente, tudo cai por terra, num ápice. Sem que tivesse feito nada para que assim fosse. Aconteceu. Simplesmente aconteceu!

Sinto-me a perder o chão, como se a ponte estivesse prestes a ruir. As fundações do que sou, estão a ser abaladas e não sei se consigo manter-me de pé. Sinto-me fraca, sem ter ao que me agarrar. Porquê a mim?!
Porque haveria de ter dobrado a esquina e dado com outro caminho? E que tem esse caminho de tão especial, que me faz pôr em causa o que percorri até hoje? É só a novidade? É a perspectiva de novas paisagens, novos desafios? Ou estou a desafiar-me a mim mesma? A estabelecer novos limites, levando mais longe os meus limites de sempre? (Re)descobrindo em mim novas áreas por onde posso crescer enquanto pessoa e mulher? Porque raio tem este caminho de me cativar desta forma?

Olha, espera! E se não for tão severa comigo mesma? E se me permitir ser imperfeita? Afinal, se consigo ser tolerante com os outros, porque motivo não consigo ser mais tolerante comigo? Eu sei que não sou perfeita! Tenho até uma opinião negativa sobre mim mesma. Mas porquê, se até há quem me diga que sou assim e assado e que me faça sentir bem e especial? Quando há pessoas que abertamente me declaram que gostam de mim, que me acham brincalhona e bem-disposta, porque insisto em ver em mim apenas o que de menos bom por aqui anda? Serei capaz de me perdoar? Serei capaz de me dar uma hipótese?
Afinal, a única coisa sem solução é a morte. O resto, sempre se arranja uma maneira, um jeito de de consertar, de tornar melhor. Nada é irreversível. Claro que depende da vontade dos envolvidos. Mas isso é sempre assim. Para o bom e para o menos bom.

Se me permitem sonhar, porque não hei-de poder permitir-me tornar o sonho real?"

6 comentários:

  1. Há uma canção infantil que diz isto;

    Sapo, sapo, sapo
    À beira do rio
    Quando o sapo canta
    É porque tem frio

    Ao passar a ponte,
    A ponte tremeu
    Coitado do sapo...
    Jacaré comeu

    Hehehe... era só para animar!
    Continuação de boa história!

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  2. Talvez tenha chegado o momento de pedir ajuda!

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  3. Sapo,

    qualquer que seja o caminho que a tua protagonista seguir, dá-lhe a paz de espírito necessária para conseguir apreciar os bons momentos e deixar para trás tudo o que a atormenta. Porque a verdade é que os problemas e as preocupações não duram para sempre. Somos nós quem nos deixamos consumir por eles e por aquilo que os outros pensam. Diz-lhe que ela tem é de pensar nela, porque na hora H é com ela mesma que deve contar. Dá-lhe as bases, as armas e os truques para que, qualquer que seja o caminho, ela consiga percorrê-lo de cabeça levantada e orgulhosa de si mesma.

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  4. Anónimo:

    Não envergonha ninguém pedir ajuda. E se achas que é necessário, penso que fazes bem. Às vezes precisamos que alguém estranho nos diga o que já sabemos porque já o pensamos, já nos disseram e sentimos no mais íntimo do nosso ser.

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  5. omeujornaldiario:

    tu estás tão lá!! É que é mesmo isso.

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