sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Outubro

Em Outubro, o tempo muda. Tarde mas muda.

As árvores perdem as folhas, mas antes de se reduzirem à sua expressão mais simples, de cabides gigantes, prontas a receber os casacos todos do mundo, oferecem-nos um espectáculo de luz e cor inigualável. Perceber os cambiantes das cores douradas e avermelhadas das folhas; poder assistir, sentado num banco de jardim, às correrias que o vento faz por entre as folhas que se aguentam estoicamente agarradas aos ramos; assistir à sua queda lenta no chão; poder brincar como os garotos numa pilha de folhas, amontoadas para apanhar e espalhá-las novamente, dando pontapés e vê-las esvoaçar e imaginar o pânico de uma hipotética formiga que por lá andasse perdida. Que grande aventura teria para contar quando voltasse ao formigueiro!

Em Outubro, chega o frio. Vá, o calor diminui. Pelo menos de manhã e ao fim da tarde. Dá vontade de vestir roupa mais quente e usar casacos. E de me sentir quente por dentro, enquanto o frio me esbofeteia a cara e me faz chegar corado ao destino. Em Outubro chegam as castanhas e os magustos e a jeropiga. E relembram-se magustos de infância com idas ao pinhal apanhar caruma e uma velha telha de zinco que era colocada no chão do pátio para não sujar o chão, onde se dispunham caruma, castanhas e sal, em camadas generosas. No murinho que existia, ficávamos sentados a ver o lume a queimar, a caruma e a assar as castanhas. Era fim da tarde e quando o lume se consumia, esperava-se um bocadinho e com jeito ia-se à procura das castanhas. Quente e boas! Verdadeiramente quentes e boas! O ritual de lhes tirar a casca, de ficar com os dedos carregadinhos de fuligem e corrermos uns atrás dos outros para nos enfarruscarmos. Claro que no final havia correrias e gritos e brincadeiras. E uma barrigada de castanhas! Não me lembro se nesses dias jantávamos, mas é provável que sim!

Em Outubro começa a custar mais ir à casinha. Principalmente ao trono. Porque aquela parte de desapertar as calças faz com que haja demasiada ventilação nas pernas. E convenhamos, os tampos das sanitas são frios como o demónio. Já dei por mim a descer as calças o mínimo indispensável. Em vez de ser até aos tornozelos, ficam ali pelo joelho ou até um pouco mais acima. É isso e tomar duche de manhã. Custa! E depois de tomar, não apetece sair da casinha! É tudo ao contrário.

Em Outubro, conheci-te de outra forma. Tocavas-me ocasionalmente quando passavas por mim. Em Outubro, tocaste-me os dedos. Brincaste com eles. Permitiste que brincasse com os teus. Que os afagasse. Em Outubro abracei-te, com o pretexto do frio que dizias sentir. Larguei-te cedo. Demasiado cedo. Podia ter aproveitado mais e melhor. Ainda assim soube-me bem. Até os ombros deram conta! 
Gosto de Outubro. E de ti.

2 comentários:

  1. Do que me lembro, mal se jantava no dia das castanhas porque ninguém aguentava mais. A minha mãe aquecia água na fogueira numa panela de ferro para lavarmos as mãos depois da grande barrigada... assim evitava mudanças de temperatura e, pensava ela, evitava as frieiras...

    A minha infância manda cumprimentos felizes, por lhe avivares as memórias!

    ResponderEliminar
  2. Kali:
    É tão bom recordar momentos felizes.
    Feliz fico eu por te saber por cá!
    Beijinhos!

    ResponderEliminar