quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Do trabalho

Já aqui disse, e repito, que gosto do que faço.
Gosto de dar aulas, gosto de ensinar, de despertar curiosidade nos alunos, de os espicaçar, de estimular a sua criatividade, de os ver de olhos brilhantes e com expressões, de alguma forma, emocionadas, pelo que viram, pelo que aprenderam.

Vem isto a propósito de algumas cenas lamentáveis que têm ocorrido dentro e fora da escola em que alunas (!) se têm agredido fisicamente (sim, que as agressões verbais, são muito muito mais frequentes!), em que grassa o desinteresse pela escola e pelas actividades propostas para as aulas, sejam elas mais ou menos práticas.

É difícil saber o que fazer com os alunos, porquanto os alunos não sabem o que andam a fazer na escola, porque motivo têm de aprender conteúdos e matérias e interiorizar normas e regras de saber estar e fazer. Há muita falta de curiosidade, falta de vontade de aprender, de saber, de descobrir o porquê de algumas coisas. Os espíritos estão muito pouco inquietos, aceitam com passividade o que lhes é proposto. Quando não aceitam, não esboçam mais do que um tímido protesto. E mesmo quando o protesto é um pouco mais vigoroso não vão mais além: não há propostas, não têm alternativas, não sabem ou não querem saber.

É desmotivante lidar com pessoas assim. Principalmente com pessoas jovens, que têm hoje acesso a meios de informação e cultura poderosíssimos como a internet e todo o potencial de informação e conteúdos que disponibiliza, na sua maioria gratuitamente. Não deixa de ser curioso que a utilização que os alunos do 3.º ciclo fazem da internet e das TIC em geral não seja mais do que jogar, utilizar as redes sociais (msn, facebook), email, sites de partilha de ficheiros P2P, e muito pouco mais. A ideia de os alunos fazerem um trabalho de um qualquer tema, para uma qualquer disciplina é traduzido por eles como vai a um motor de busca, faz uma pesquisa, vê o primeiro resultado, selecciona, copia, cola num documento, muda o tipo de letra, junta duas figuras, diz que foste tu que o fizeste e entrega. Lembro-me de, no ano lectivo de 2008/2009 ter dado 0 (zero) à maioria dos alunos de uma turma de oitavo ano que tinha de fazer uns trabalhos individuais. Houve dois alunos que tiveram avaliação positiva.

Os miúdos até gostam da escola. Não gostam é daqueles bocados de 45 ou 90 minutos, que ocorrem dentro das salas, e a que se chama aulas. Os professores são uma seca, as aulas são uma seca, aprender é uma seca, a escola é uma seca. Mas não deixam de vir. Não deixam de aproveitar a internet wireless gratuita da escola; nem a electricidade com que carregam todos os aparelhos electrónicos possíveis e imaginários: pc's, telemóveis, mp3 e mp4, playstations e outras consolas, os preços mais baixos do bar da escola, nem o aquecimento.

Sim, eu sei. Estou a pintar o quadro demasiado negro. Mas quando há uma semana disse a uma turma, que na aula de 90 minutos da semana seguinte teriam de trazer o material resultante da pesquisa para fazer cartolinas sobre um conjunto de países que tinhamos estado a estudar; quando entro na sala no dia em que, tudo o que teriam a fazer seria fazer as colagens da cartolina, e me deparo com três dos seis grupos, sem qualquer tipo de material, e com as desculpas do costume (o cão comeu, está na pen, esqueci-me, foi o outro elemento que ficou de trazer e não trouxe) e se tem meia turma a olhar para o tecto... E quando isto acontece menos de duas semanas depois de na mesma turma lhes ter pedido para fazerem resumos que seriam analisados e completados e que serviriam para que estudassem para o teste de avaliação e não houve um único aluno que o tivesse feito...

Sim. A frustração instala-se. Não totalmente. Não é desânimo ou descrença, mas começa a faltar qualquer coisa que me faça ter vontade de preparar aulas diferentes e mais activas para os alunos. Os meninos queixam-se de falta de motivação. Eu chamo-lhe preguiça e falta de objectivos pessoais e de vida.

2 comentários:

  1. Triste sem dúvida :( Só mais tarde é que começam a sentir necessidade de conhecerem o mundo, serem cultos, serem informados. Etc.

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  2. M.R.:
    O que mais custa é arrogância ignorante com que te tratam.

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