domingo, 20 de novembro de 2011

No meio da ponte (capítulo 8)

"Vou percorrendo os primeiros passos deste caminho, certa de que é por aqui que passa a minha vida. Não estou arrependida de ter escolhido, de ter optado por este caminho.

Porém, detenho-me. Obrigo-me a parar.
Não porque não queira fazer caminho, mas porque por vezes preciso de saber onde tenho os pés, qual o chão que piso. Na verdade, por vezes, desejo correr por este caminho! Pegar na mão e sair a correr e só parar quando estiver bem longe! Mas a verdade é que não tenho motivos porque fugir. Não estou a fazer nada de errado. Não estou a enganar ninguém, nem mesmo a mim própria. E não quero sair desabrida, sem dar conta de tudo o que o caminho tem para me oferecer: as paisagens, as sombras, o vento que sopra meigo e brinca com a minha franja, o luar e as estrelas de uma noite mágica. Preciso de percorrer o caminho com tempo para me ambientar. Para me dar conta de quem sou, do que quero para mim e para nós.

Ainda assim, há laços que me prendem à ponte e ao caminho antigo. Já cortei tantas amarras do peito e ainda me sinto presa. Não quero cortar mais estas porque fazem parte de mim, da minha vida. e se cortar, vou ficar sempre com as pontas atadas em mim, a lembrarem-me que foram cortadas, a manterem-se presentes até se irem desfazendo aos pedaços. Sei que se desatar, embora fique a marca, é mais fácil de apagar, até porque não magoa tanto. Já não aperta. É como a marca do fato de banho no fim do Verão: vai-se esbatendo até se  se diluir na pele.

Vou desatar estes últimos nós. Vou preparar-me para com paciência desapertar o resto dos nós, que fui fazendo ficar laços nas últimas semanas. Para ser mais fácil de desatar. Mas preciso ainda da tua ajuda: preciso que esperes por mim, enquanto vou levar as amarras ao outro lado da ponte. Para que o outro caminho não fique sem nada, sem amparo.

É que eu, tenho-te a ti. Mas ele não tem ninguém. Espero que consiga guardar o que de bom e bonito fizemos no caminho até à ponte. E que seja feliz. Se quiser. Sim, começo a perceber quando me dizes que temos o poder de decidir, a cada momento, se queremos ser felizes ou não! A felicidade dele, não passa por mim. E a minha não passa por ele. Dá-me uns momentos para lhe explicar isso. Eu prometo que volto, meu amor!"

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