domingo, 20 de novembro de 2011

No meio da ponte (capítulo 9)

"E lá vai ela.
A fazer algo que eu sei que tem de ser feito. A encerrar um capítulo. A fechar uma porta. Tem de ser. É doloroso, mas tem de ser. O que posso fazer? Aguardar. E estar cá quando ela regressar.

Disse-lhe tudo isto e mais. Disse-lhe que não tem de se sentir responsável pelo estado em que fica o caminho que escolheu deixar. Que na verdade, outras pessoas haverão de querer trilhar esse caminho. E que não pode querer percorrer um caminho tendo outro em mente. Muito menos, achar-se responsável pelo que acontecerá ao outro caminho. E não se trata de egoísmo. Trata-se de não ser justo para nenhuma das partes. Nem para ela, nem para ele. Para ele, porque não é justo ser rejeitado e depois ter de lidar amiúde com quem nos rejeitou. É uma questão de amor próprio, de auto-preservação. Para ela, porque se fez a opção, se decidiu, não tem de viver presa a algo que não quer. Mesmo que isso implique passar por ser apelidada de fria, de sem-coração. Ela sabe que não é assim. Eu também!

Ninguém gosta de ser deixado. É verdade. Todos preferimos ser acolhidos e gostados. A questão que se coloca é: até onde vai o sentimento de culpa? Até que ponto deve haver sentimento de culpa, se a questão é ter deixado de haver sentimento de amor? Um substitui o outro? E porquê? Se deixou de haver amor, que sentido faz ficar com outra pessoa? Por hábito? Por pena? Por rotina? Eu não gostaria de ter alguém comigo por ter pena de mim. Por esse alguém me achar fraco demais para reagir ao impacto. Por duro que seja, não é pior viver a vida sabendo que se viveu uma mentira?

Por mim, vou ficar aqui. À espera que ela volte. Pronto a recebê-la num abraço. E preparado para lhe dar o que ela precisar. Porque é assim: quem ama, cuida."

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