domingo, 13 de novembro de 2011

Do ser

Ser porque sim. Ser porque se existe. Porque existe em nós um sopro de vida, uma chama de fogo que nos anima. Porque temos cá dentro do corpo uma alma que se agita, inquieta e que, sendo eternamente insatisfeita, nos obriga a mudar, a desincrustar o que cá dentro se foi alojando e ganhando camadas sucessivas de sedimentos até se transformar em rocha. E em peso. Morto. Que é urgente e necessário retirar, sob pena de com ele irmos ao fundo.

O ser, o existir, é relativamente simples para um pequeno grupo de pessoas e algo de extremamente complicado para a esmagadora maioria das pessoas. Senão vejamos: a quantidade de pessoas que se diz feliz, é muito menor do que a quantidade de pessoas, que quando questionadas se estão bem respondem: "vai-se andando" ou "está tudo mais ou menos" ou ainda "quando assim, nunca pior!". Esta atitude de viver a vida de uma forma pequenina, envergonhada, comezinha, com receio de nos dizermos felizes, com medo que a nossa felicidade choque com o sofrimento dos outros é tão errada!

Temos uma sociedade que gosta de quem sofre e se afasta de quem é feliz.
Sim. É verdade!

Na actualidade as pessoas abeiram-se mais de quem sofre do que de quem é feliz. E não é para ajudar. Não é por serem movidas por um espírito solidário e fraterno. Na maioria dos casos é para se sentirem melhor. Ouvem os problemas dos outros, para porem os seus em perspectiva e com isso sentirem-se um pouco menos mal, como quem diz: "ainda eu acho que estou mal! Aquela/e é que tem motivos de queixa." E vão-se conformando com a sua vidinha que! afinal,-não-é-assim-tão-má-como-parece-comparada-com-a-vida-de-outros-que-por-aí-andam.". Não resolvem nenhum dos problemas ou situações que lhes trazem sofrimento, vivem atascados na m**da até às orelhas, mas gostam. Porque mudar, fazer alguma coisa por nós mesmo implica esforço. Implica aprendizagem e sim, implica alguma dor e sofrimento. Confrontarmo-nos ao espelho traz por vezes reflexos de nós que nos incomodam. Que nos deixam ver quão vazios estamos daquilo que é fundamental.

Usamos os outros e os seus problemas para nos desculparmos da inépcia relativamente a nós e aos nossos próprios problemas. Achamos que estamos mais ou menos, esquecendo-nos que podemos estar muito melhor. Podemos estar mesmo bem. Não todos os dias. Não todas as horas, mas a maior parte do nosso tempo.

Daí que diga que quero ser mais e melhor. Eu sei que nem sempre consigo. Eu sei que muitas vezes magoo quem está por perto. Tenho consciência disso. Mas o errar não faz de mim pior ser humano. Faz de mim, ser humano. Só isso. E quem nunca errou, que atire a primeira pedra. Quem não conhece o erro, não conhece a sensação de ser perdoado pelo erro cometido. Quem nunca falhou, não conhece a felicidade de acertar, de fazer as coisas bem.

O melhor do erro, é termos a oportunidade de repará-lo. E de aprender com ele.

8 comentários:

  1. Nunca percebi bem essa história de as pessoas se aproximarem de quem está infeliz. É claro que ajudo se um amigo meu não estiver a passar por um momento bom, mas prefiro mil vezes rodear-me de pessoas que me relembrem o que é uma boa garganlhada, que não me façam esquecer do que é a felicidade. Afinal, não é esse o objectivo de todos nós, ser feliz? Atrai-me muito mais um sorriso do que uma pessoa derrotista. Na verdade, chama-me má pessoa, mas se uma pessoa que mal conheço se faz passar por coitadinha "ai que estou tão mal e quero morrer, nunca vai ficar tudo bem" à minha frente, é coisa para eu me assustar. Amigo é para os momentos bons e maus, não apenas para passar festinhas no lombo quando estamos no lodo. Um sorriso, ainda que tímido, leva-nos muito mais longe. Esse sorriso faz com que um dia possamos desabar num pranto ao colo dessa pessoa. Pelo menos comigo funciona melhor assim. Smile first, cry later.

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  2. E quem te diz que, o que parece agora errado, não se mostra... depois: acertado?
    E tal como isto, o contrário...
    Concordo: viver é melhor que ter medo de viver.
    E ser positivo é melhor que ser encolhido :)
    E ser amigo é melhor que ser conhecido,

    E estar presente para alguém só porque assim me sinto melhor com a minha própria miséria... é mesmo uma atitude de quem escolhe desperdiçar o seu tempo, que é afinal uma das dádivas mais valiosas que todos temos... e a cada dia que passa (para os comuns mortais) parece que diminui... não valerá por isso a pena aproveitar desde já? (Tipo: antes que esgote...)


    Foi bom acompanhar a história dos muitos capítulos e imaginar como seria o lado de lá, mas é bem melhor ler-te de volta e sentir-te mais tranquilo, mais Presente :).
    Continua presente e, se possível, contente!

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  3. Turtle:
    Estamos completamente de acordo!
    You keep on going girl! ;)

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  4. Kali:
    Como sempre, estás lá! E mais além! És o Buzz Lightyear aqui dos meus escritos.

    Obrigado por continuares a passar por cá! A tua presença é notada com muito agrado!

    Abracinhos e beijinhos!

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  5. "Mas o errar não faz de mim pior ser humano. Faz de mim, ser humano."

    Deu-me muito prazer ler este texto. Concordo com o que disseste. Eu considero-me uma pessoa feliz e grata por tudo o que tenho. Há pessoas que não têm e há outras que têm e não dão valor. =)

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  6. CurlyGirl:

    Não dar valor ao que se tem é questão que afecta muita gente. A maior parte das pessoas só precisa de abrir os olhos para se maravilhar com o que dispõe na sua vida!

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  7. Astronauta?

    Hum...?
    Há coisas que não compreendo de todo :(

    Pretendo continuar a passar por cá, sim.
    Se isso for positivo.
    Se não for: passo
    (ou salto, atendendo ao contexto)

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  8. Kali:
    O Buzz Lightyear é aquele que diz "Para o Infinito e mais além!" Os teus comentários são um bocadinho assim: levam o que escrevo e o que penso um pouco mais além. Fazem-me sair do comum. Já compreendeste agora?

    E é claro que quero que continues a passar por cá!

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