domingo, 4 de dezembro de 2011

O tempo

O tempo é um conceito muito relativo. Às vezes corre lento, outras anda rápido. Dizem que o tempo tem tempo. Que quem apressa a vida, atrasa a felicidade. Que o tempo cura tudo. Que tudo a seu tempo. Que tempo é dinheiro. Que o tempo ajuda a esquecer e a consertar o que está avariado ou estragado.

Para mim, o tempo resume-se ao existir. Por muitos livros, por muitos relatos que existam escritos, gravados com som e/ou imagem. Mesmo o que se encontra nas mediatecas, nas videotecas, só existe enquanto eu existir. Quando morrer, mesmo que esses registos continuem a existir, a mim pouca diferença me farão. Estarei morto. Não enterrado. Quero ser cremado. E que deitem fora as minhas cinzas. Do alto de uma qualquer serra. Pode ser que das minhas cinzas algo de bom nasça. Uma flor ou uma folhinha de erva. Ou um cogumelo! Qualquer coisa de mais simples, logo, melhor do que o que sou hoje. Este sapo feio e verde que habita em mim. Que não gosta de se ver ao espelho do charco onde habita. Que por mais que o beijem, não consegue ser um verdadeiro príncipe. Não tem cavalo branco. Nem escudo ou lança. Nem espada ou armadura.

Dava jeito que o beijo, para além de mudar o aspecto do sapo, mudasse também o feitio, a maneira de ser.
O tempo (lá está!) encarrega-se disso. Devagar, devagarinho, o tempo vai-me ensinando que aspectos são de manter e quais os que têm de ser polidos, aprimorados, burilados, para que fiquem não só com melhor cara mas também menos agrestes ao contacto.

Um mês é muito pouco tempo, estamos de acordo?
Depende. Um mês de vida num doente em fase terminal (Estranho como sempre achei curiosa esta expressão! Como se fossem só as pessoas portadoras de alguma doença incurável os que se encontram em fase terminal! A vida é ela própria uma doença de prognóstico reservado. E esta doença tem cura. Chama-se morte!), mas dizia eu, um mês de vida num doente em fase terminal pode ser considerado pouco tempo. Mas e a paz de se saber, ainda que aproximadamente, quando se vai deixar esta vida?

Um bebé com um mês de vida, já está um bocadinho diferente do dia em que nasceu. Maior, mais pesado. E os bebés com um mês de vida precisam de que olhem por eles. Que os alimentem, que lhes mudem a fralda, que lhes dêem banho, que os vistam. Que os aconcheguem, lhes aturem as birras, que lhes dêem colo e mimos. Que amparem nas noites mal dormidas. Que acarinhem e tratem bem. Que o levem ao médico e às consultas do peso e às vacinas...

Não se deixa morrer um bebé. Especialmente um bebé de um mês. Tudo farei para que haja tempo de vida para este bebé. Afinal, ele não surgiu de geração espontânea. Não foi planeado? Não! Mas está cá e agora tem de se tratar dele, de lhe dar as oportunidades todas que ele precisar para vingar, crescer forte, saudável e tornar-se no mais importante das nossas vidas.

Porque é(s) assim: o mais importante das nossas vidas!

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