sexta-feira, 22 de março de 2013

Game Over

No dia em que encaixarmos a última peça, em que se fizer ouvir o click! e tudo parecer estar no seu devido sítio, morremos. De facto ou no sentido figurado. Quando não houver nada mais para melhorar, para conquistar, para construir, para aperfeiçoar, para cuidar, quanto tudo parecer igual e sensaborão, estamos mortos. Quando os dias não tiverem baixos nem altos, gargalhadas nem choros, ironia ou sinceridade; quando se tornarem ínsípidos como um prato de sopa de hospital,  estarei morto. Coloquem-me então entre quatro tábuas simples, sem ornamentos, com pegas de corda natural e levem-me ao lume. Forte. Nada de branduras que quero arder depressa. Depressa. Uma vez em pó, deitem-me ao vento. Do cimo de uma qualquer montanha, deitem-me ao vento e deixem que seja ele a decidir onde poderei ser, outra vez. Mais uma vez.

Só mais uma vez, porque pode ser a última, deixa-me dormir abraçado a ti. Como na outra noite. Naquela cama estreita de colchão borbulhento que nos magoa as costas. Mais uma vez, só mais uma vez permite-se ser um contigo porque nenhuma me completou ainda como tu me completas. Mais uma vez. Só mais uma vez, permite que repouse sobre ti terminada a corrida. Mais uma vez deixa-me respirar o cheiro que se desprende da tua pele transpirada, do teu cabelo, limpar com os lábios a tua testa ornamentada com minúsculas gotas de suor causadas pelo cansaço do amor.

O amor cansa. É difícil o amor. Deixa-nos sem fôlego, quentes, suados e sem força. Esgota-nos o amor. E no entanto é a ele que regressamos sempre. Uma e outra vez. Porque nele julgamos que somos mais do que somos. Porque na loucura que nos provoca cremos ser melhores e mais capazes. O amor inflama. Deixa arder. Deixa-me arder em ti, meu amor.


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