domingo, 24 de março de 2013

Parte VI

Volta para casa. Pelo menos é que isso que parecia querer fazer, pela direcção que tomou quando saiu do café, fechando atrás de si a porta de vidro. É atraído pelo colorido de uma parede pejada de papéis e cartazes de eventos a ocorrer nos próximos dias. Curioso o boneco que ilustra o cartaz de um workshop de culinária a realizar nesse fim-de-semana. Sorri para o boneco e retoma o caminho para casa, passando os olhos nas letras gordas que enchem a manchete do jornal. Abeira-se da estrada e aproveitando uma aberta no trânsito atravessa a rua da forma que a sua mãe sempre lhe disse que não deveria fazer: correndo. Chega em segurança ao passeio do outro lado da rua. Entra na padaria. Compra uma broa de milho e seis pães de trigo pequenos. Agarra o saco de papel que colocaram sobre o balcão e paga a despesa.

Regressa a casa e depois de pousar o pão e o jornal e de retirar as pastilhas elásticas do bolso das calças dá uma volta pela casa levantando os estores e permitindo que temporariamente, o vento que entra pelas janelas viaje por todas as divisões, levantando pó e papéis e provocando o fecho da porta da casa de banho com um estrondo. Terminou a corrente de ar.

Procura o telefone e verifica se existem chamadas perdidas. Número privado. Seja quem for terá de ligar novamente. Não gosta de perder chamadas telefónicas. Na sua cabeça, haver alguém que tenha querido falar com ele e não ter atendido é algo que o perturba. Não que seja algo de extraordinário ou de inédito, mas não consegue esquecer aquela outra chamada telefónica que não atendeu. Bem antes de existirem telemóveis...

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